A quadra natalícia envolve sempre o ritual de desejar/enviar "boas festas". E se é verdade que a nossa cultura mantém tal ritual, não é menos verdade que as suas práticas têm sofrido alterações muito sensíveis. Passaram a rarear os votos por correio (ou são quase só de empresas, cumprindo um programa automático e mais ou menos impessoal). Surgiram as mensagens por telemóvel e, nos últimos anos, por mail.
Devo dizer que não sou fã de nenhuma das formas. Mas também nada me move contra os sentimentos de quem me envia "boas festas" (tenho, aliás, o cuidado de fazer eco de muitos desses votos).
Em todo o caso, este ano, descobri uma nova modalidade a que chamarei 'Feliz Natal... forward'. Assim, em alguns mails, há quem utilize mensagens que recebeu, reenviando-as para saudar outras pessoas: chega ao seu mail, faz click na opção forward e... cá vai disto! Seria apenas anedótico se não fosse profundamente triste. De facto, chegámos a um tal ponto de saturação de "informação", que alguns cidadãos, por certo com a maior das boas vontades, acreditam que um mail (re)enviado corresponde a uma qualquer troca genuinamente natalícia.
Importa reflectirmos um pouco sobre esta histeria com que multiplicamos "mensagens" sem que, em boa verdade, tenhamos qualquer conteúdo para enviar — fazemos forward e, pelos vistos, alguns de nós acreditam que algo de pertinente aconteceu... Decididamente, estamos a perder a noção do que seja o social: estamos, sobretudo, a começar a acreditar que o facto de sermos protagonistas de muitos impulsos electrónicos é o mesmo que viver em sociedade.