Esta é a reprodução de um passe de entrada na República Democrática da Alemanha, no mês de Fevereiro de 1990. Validade: até 21 de Fevereiro. Foi com ele [click para ver maior] que pude visitar a zona leste da cidade de Berlim, por ocasião da realização da 40ª edição do Festival de Cinema de Berlim (que decorreu entre os dias 9 e 20 de Fevereiro). Cerca de três meses depois da Queda do Muro, os movimentos das pessoas eram ainda geridos por este ritual alfandegário, ainda que reduzido a um mero formalismo — e a circulação, nos dois sentidos, era de facto imensa, marcada por sentimentos contraditórios de alegria, esperança e ansiedade.
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A edição do festival [cartaz] ficou para a história como um momento emblemático de comunicação entre as "duas" Alemanhas, aliás prolongando uma espécie de abertura tácita que, por tradição, já marcava o certame. Num certo sentido, o Festival de Berlim tinha funcionado nas últimas décadas como um espaço de tréguas culturais, tentando dar a ver o maior número possível de títulos, de todas as origens, celebrando aquilo que, com maiores ou menores equívocos, se podia chamar
ecumenismo cinematográfico. O site do festival regista, aliás, o facto de a programação de
1990 ter resultado, em grande parte, da colaboração entre o certame, dirigido por Moritz de Hadeln, e o Bureau Cinematográfico da Alemanha de Leste, da responsabilidade de Horts Pehnert.
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Nos seus espaços não competitivos, a programação deu especial ênfase às memórias do pós-guerra e da Guerra Fria, apresentando um vasto conjunto de obras que, directa ou indirectamente, reflectiam a história da(s) Alemanha(s) no período 1949-1990. Entre os filmes apresentados incluía-se
Spur der Steine (título inglês:
Traces of the Stones), uma realização de Frank Beyer sobre um gigantesco empreendimento arquitectónico na Alemanha de Leste — lançado em 1966, o filme acabaria por ser retirado da circulação pelas autoridades comunistas que o terão considerado demasiado "liberal". O júri da competição oficial — presidido por Michael Ballhaus, director de fotografia alemão, e Margaret Ménégoz, produtora francesa — distinguiu dois filmes,
ex-aequo, com o Urso de Ouro:
Music Box (EUA), de Costa-Gavras, e
Larks on a String (Checoslováquia), de Jirí Menzel.