O mais recente filme de Francis Ford Coppola, Tetro, tem estreia portuguesa marcada para o dia 19 de Novembro: estes três textos abordam sucessivamente a personalidade do realizador, a sua actividade de vinicultor e, por fim, o próprio filme — foram publicados no Diário de Notícias (14 de Novembro). [1] [2]
O motor da história de Tetro é a viagem de Bennie (Alden Ehrenreich) a Buenos Aires, tentando reencontrar o irmão desaparecido, Tetro (Vincent Gallo). Bennie procura nele uma parte perdida de si próprio, como se a família fosse esse espaço insólito, sempre transparente, cujas fronteiras quase nunca sabemos situar.
Em boa verdade, reencontramos uma obsessão nuclear do cinema de Coppola: a de sentirmos o outro como espelho mais ou menos deformante da nossa própria identidade. Pensemos, por exemplo, em Apocalypse Now e na subida do rio pelo capitão Willard (Martin Sheen) em direcção ao refúgio do coronel Kurtz (Marlon Brando). Não é verdade que, a partir de certa altura, o espectador sente que Kurtz existe como uma espécie de fantasma muito realista do próprio Willard?
Quando Tetro teve a sua estreia mundial no passado mês de Maio, na Quinzena dos Realizadores (Cannes), todos sentimos que Coppola arriscava mais do que nunca nos seus ziguezagues criativos. Isto porque Tetro nasce num difícil contexto de produção [daí as dificuldades de financiamento, com Coppola a assumir uma parte significativa dos investimentos], sem que isso o impeça de celebrar a agilidade de um cinema genuinamente experimental, a ponto de haver uma espécie de auto-citação irónica: tal como Rumble Fish (1983), Tetro é um filme fotografado a preto e branco em que, por vezes, a cor emerge como revelação de um mundo alternativo, interior e sensual. Será preciso recordar que Rumble Fish era também a história de uma irmandade confrontada com as suas feridas mais fundas?
O motor da história de Tetro é a viagem de Bennie (Alden Ehrenreich) a Buenos Aires, tentando reencontrar o irmão desaparecido, Tetro (Vincent Gallo). Bennie procura nele uma parte perdida de si próprio, como se a família fosse esse espaço insólito, sempre transparente, cujas fronteiras quase nunca sabemos situar.
Em boa verdade, reencontramos uma obsessão nuclear do cinema de Coppola: a de sentirmos o outro como espelho mais ou menos deformante da nossa própria identidade. Pensemos, por exemplo, em Apocalypse Now e na subida do rio pelo capitão Willard (Martin Sheen) em direcção ao refúgio do coronel Kurtz (Marlon Brando). Não é verdade que, a partir de certa altura, o espectador sente que Kurtz existe como uma espécie de fantasma muito realista do próprio Willard?
Quando Tetro teve a sua estreia mundial no passado mês de Maio, na Quinzena dos Realizadores (Cannes), todos sentimos que Coppola arriscava mais do que nunca nos seus ziguezagues criativos. Isto porque Tetro nasce num difícil contexto de produção [daí as dificuldades de financiamento, com Coppola a assumir uma parte significativa dos investimentos], sem que isso o impeça de celebrar a agilidade de um cinema genuinamente experimental, a ponto de haver uma espécie de auto-citação irónica: tal como Rumble Fish (1983), Tetro é um filme fotografado a preto e branco em que, por vezes, a cor emerge como revelação de um mundo alternativo, interior e sensual. Será preciso recordar que Rumble Fish era também a história de uma irmandade confrontada com as suas feridas mais fundas?