'Beatles For sale' (album), 1964
Muitas vezes é visto como um passo atrás na obra dos Beatles. Mas, na verdade, esse “passo atrás” não deixa de ser acompanhado por sinais de mudança que aqui se indiciam, lançando as bases para o que, em 1965, se revelaria como a chegada de uma nova etapa, de maior maturidade musical, na obra dos fab four. A ideia do “passo atrás” é muitas vezes aplicada ao álbum Beatles For Sale (editado em Dezembro de 1964) pelo facto de contar novamente versões de temas de outros autores, algo que não acontecera no imediatamente anterior A Hard Day’s Night, integralmente constituído por originais. A presença de seis versões num alinhamento de 14 temas explica-se facilmente pela intensa agenda de trabalhos que o grupo então enfrentara. As gravações do álbum anterior haviam terminado em Junho. Seguiram-se concertos na Europa e Extremo Oriente, assim como diversas participações em programas de televisão. Em Agosto, o regresso a estúdio para gravar um novo álbum para ser editado antes do Natal não lhes deu tempo para muito mais. Muitas das novas canções nasceram mesmo durante as sessões de trabalho, que decorreram, com intervalos, entre Agosto e meados de Outubro de 1964. As novas canções, sobretudo a chamada “trilogia” de John Lennon que abre o lado A (No Reply, I’m a Loser e Baby’s In Black) sublinhavam uma escrita mais pessoal e traduziam um clima menos festivo. É sobretudo entre os oito originais que o disco apresenta que se definem novos caminhos, que sugerem uma banda em busca de outros patamares de realização. O peso da fama, depois de quase dois anos de exposição mediática à escala global (o último dos quais com a Beatlemania já em solo americano), começava a deixar marcas, de que este disco é um primeiro retrato. A própria foto usada na capa, tirada em Hyde Park numa manhã do Outono de 1964 mostra expressões bem distintas dos rostos sorridentes de outros discos que a banda até então editara. Era o primeiro disco do resto da sua discografia…