Nascido em Vidago, Trás-os-Montes, João Vieira, personalidade fundamental na pintura portuguesa do último meio século, faleceu hoje, no Hospital de Santa Marta, na sequência de uma operação ao coração -- contava 74 anos [notícia no jornal Público, de onde é extraída esta foto]. Nome ligado ao grupo do Café Gelo, nos anos 50, seria um dos fundadores, em Paris, do grupo KWY, com José Escada, René Bertholo, Gonçalo Duarte, Lourdes Castro, Christo e Jan Voss. Também na capital francesa, como bolseiro da Fundação Gulbenkian, trabalhou com Arpad Szenes. O seu gosto pela performance cruzou-se várias vezes com a pintura, tornando-se indissociável do trabalho como cenógrafo teatral, desenvolvido a partir do regresso a Lisboa, em 1967.
Permanentemente envolvido com a poesia -- sendo Cesário Verde o seu autor de referência --, João Vieira acabaria por fazer dela uma matéria vital de muitos dos seus quadros. Ou melhor: a escrita e, no limite, as letras transfiguraram-se em seres mais ou menos autónomos, contidamente selvagens, emprestando à sua pintura o valor de um alfabeto imaginário, corrigido e reescrito através do próprio desejo das formas. Com ele, aprendemos que uma imagem não vale mais (nem menos) que mil palavras, embora possa contê-las todas.