domingo, setembro 13, 2009

Era uma vez na América

Um dos maiores desafios colocados perante os compositores americanos nas primeiras décadas do século XX centrava-se na descoberta de uma identidade. Há muito que havia tradições musicais, orquestras, maestros e até mesmo compositores, assegurando uma actividade regular nas principais cidades do país. Mas na verdade não mais mostravam que projecções directas de referências da tradição clássica europeia. Cabe a nomes como Charles Ives, George Gershwin e Aaron Copland, entre alguns mais, a afirmação de uma nova identidade musical capaz de, mesmo aceitando genéticas e heranças, demarcar pela personalidade de um tempo e de uma vivência uma ideia do que poderia ser (e acabou mesmo sendo) uma nova América.


Dirigindo a Orchestra of St Luke's, o maestro Dennis Russel Davies apresenta neste disco (editado pela Nimbus), um conjunto de importantes contribuições de Aaron Copland (1900-1990) para essa demanda. O alinhamento de obras que apresenta serve de possível resposta a uma dúvida que o então jovem estudante Aaron Copland sentira quando, em Paris (e aluno de Nadia Boulanger), questionara o porquê da existência de uma música francesa e uma música alemã e não (até á época) uma música americana. O disco abre com a suite Music For Theatre, que Copland compôs em 1925, dois anos depois do "caso" que gerara com um concerto de tonalidades jazzísticas que apresentara em Boston, depois dessa temporada em Paris. Esta construção de uma ideia de America musical passa ainda por outros episódios aqui evocados, nomeadamente Quiet City (peça originalmente composta como música incidental para uma performance teatral mas que depois ganhou vida própria no repertório do compositor), Music For Movies (que adapta ao formato de uma suite elementos das bandas sonoras que Copland compôs para o documentário de 1939 The City, de Ralph Steiner e Willard Van Dyke - a imagem que ilustra o post é recorda um momento do filme - ou Of Mice and Men, também de 1939, numa adaptação por Lewis Milestone do romance homónimo de Steinbeck e que valeu ao compositor a sua primeira nomeação para os Oscares) e ainda o Concerto para Clarinete, encomendado por Benny Goodman ao compositor em 1947. Escutam-se ecos de paisagens, de vivências urbanas, de cenários rurais, respirações dos blues, do jazz e outras marcas de uma cultura que procurava então uma nova linguagem que buscava a expressão da sua identidade no seu tempo. Um retrato de uma América que se descobria, portanto.