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A Lua é espaço para a claustrofóbica existência de Sam (interpretado por Sam Rockwell), um técnico que assegura, solitário, uma operação mineira na face oculta do satélite da Terra. Cumpre uma missão de três anos, durante a qual conta apenas com a presença “amiga” de Gerty, um computador (com voz de Kevin Spacey) que manifesta a sua presença visível através de um rosto que lembra o “smile” do summer of love. Isolado, impedido de fazer transmissões em directo, vive de mensagens gravadas, ora com a mulher, ora com os responsáveis da companhia. E o seu quotidianio é um vaivem entre a base lunar e os mecanismos que exploram o solo lunar, construindo uma pequena cidade em miniatura nas horas vagas…
As rotinas de Sam são abaladas por visões que o assaltam a dias de ser rendido… Vê uma mulher na base… Mais tarde na superfície lunar, acabando aí por sofrer um acidente…
E quando tudo parece apontar para uma versão lunar dos ingredientes de Solaris, Duncan Jones dá-nos a volta e serve-nos uma outra história que, além dos jogos de solidão, junta elementos que traduzem uma velha admiração por grandes clássicos, do Silent Running, de Douglas Trumbull (de 1973) a Outland, de Peter Hyams (1981). Isto sem esquecer 2001, Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick (1968) e Alien, de Ridley Scott (1979), dos quais decorre a inspiração visual para a criação da base lunar que acolhe a história… É contudo fulcral, para o desenrolar da reviravolta numa narrativa verdadeiramente surpreendente, um piscar de olho a reflexões que Philip K. Dick em tempos já discutiu (e por agora não se diz mais, nem quais, para manter a surpresa como a palavra a manda ser…).
Duncan Jones, cujo passado na realização passa essencialmente pela publicidade, revela em Moon um interesse pela ficção científica das ideias, personagens e histórias, abdicando dos condimentos digitais com que a idade dos jogos vídeo tem descaracterizado (e secundarizado) este género cinematográfico. A magnífica interpretação de Sam Rockwell, a criação de uma atmosfera de incontornável solidão, uma soberba banda sonora de Clint Mansell, um argumento cativante e uma interessante reflexão sobre o direito à humanidade são peças-chave num filme que mora já entre os melhores do ano.