As opções dominantes na televisão não poupam nada, afectando tudo, desde o futebol até às séries, mesmo as que já têm estatuto de clássicos, como ER/Serviço de Urgência [foto] — este texto foi publicado no Diário de Notícias (21 de Agosto), com o título 'Futebol só dos “grandes”'.
1. No futebol, é bem verdade que alguns comentadores vão tendo o cuidado de sublinhar a valorização das equipas “médias” e a sua crescente capacidade de bater o pé aos “grandes”. O certo é que as regras dominantes do dispositivo televisivo trabalham exactamente em sentido contrário. Nem que seja através das perguntas que se fazem (ou não fazem). Assim, este fim de semana, face aos empates de Sporting, Porto e Benfica, a única questão pertinente parecia ser: como é possível que os “grandes” não tenham vencido os seus jogos? Ficou por lançar a alternativa. Ou seja: que qualidades demonstraram os outros (Nacional, Paços de Ferreira e Marítimo)? Julgava eu que essa seria a questão jornalística mais pertinente.
2. A série ER/Serviço de Urgência, criada por Michael Crichton [foto] em 1994, é um dos mais espantosos casos de longevidade na história moderna da televisão. Actualmente, podemos acompanhar as suas derradeiras duas temporadas (a 14ª, no AXN; a 15ª, na RTP2), confirmando que a consistência do seu conceito e a inteligência das respectivas derivações dramáticas se manteve para além das mudanças de elenco, do desaparecimento de algumas personagens e da introdução de outras. Trata-se de um esclarecedor exemplo do modo como, em televisão, a permanência de determinados registos de ficção começa em coisas tão básicas quanto a fuga aos clichés figurativos e narrativos. Tentem fazer o mesmo, durante 15 anos, com uma telenovela (uma qualquer...) e vejam como um pesadelo se transforma em catástrofe.
3. Nos tempos heróicos da televisão portuguesa (e o conceito de heroísmo adquiriu, aqui, um perturbante valor simbólico), séries como ER/Serviço de Urgência tinham direito a grande evidência nos horários nobres. Hoje em dia, tais horários, nomeadamente entre as 19h00 e as 22h00, recusam tudo o que se possa parecer com produtos do género, em favor de telenovelas, concursos e futebol. Entretanto, muitas análises globais mostram-nos que a ficção televisiva vive um dos seus períodos de maior variedade e fulgurância criativa. Como é que os espectadores dos canais generalistas o podem perceber? Das duas uma: praticando horários noctívagos ou... recorrendo ao mercado do DVD.
1. No futebol, é bem verdade que alguns comentadores vão tendo o cuidado de sublinhar a valorização das equipas “médias” e a sua crescente capacidade de bater o pé aos “grandes”. O certo é que as regras dominantes do dispositivo televisivo trabalham exactamente em sentido contrário. Nem que seja através das perguntas que se fazem (ou não fazem). Assim, este fim de semana, face aos empates de Sporting, Porto e Benfica, a única questão pertinente parecia ser: como é possível que os “grandes” não tenham vencido os seus jogos? Ficou por lançar a alternativa. Ou seja: que qualidades demonstraram os outros (Nacional, Paços de Ferreira e Marítimo)? Julgava eu que essa seria a questão jornalística mais pertinente.
2. A série ER/Serviço de Urgência, criada por Michael Crichton [foto] em 1994, é um dos mais espantosos casos de longevidade na história moderna da televisão. Actualmente, podemos acompanhar as suas derradeiras duas temporadas (a 14ª, no AXN; a 15ª, na RTP2), confirmando que a consistência do seu conceito e a inteligência das respectivas derivações dramáticas se manteve para além das mudanças de elenco, do desaparecimento de algumas personagens e da introdução de outras. Trata-se de um esclarecedor exemplo do modo como, em televisão, a permanência de determinados registos de ficção começa em coisas tão básicas quanto a fuga aos clichés figurativos e narrativos. Tentem fazer o mesmo, durante 15 anos, com uma telenovela (uma qualquer...) e vejam como um pesadelo se transforma em catástrofe.
3. Nos tempos heróicos da televisão portuguesa (e o conceito de heroísmo adquiriu, aqui, um perturbante valor simbólico), séries como ER/Serviço de Urgência tinham direito a grande evidência nos horários nobres. Hoje em dia, tais horários, nomeadamente entre as 19h00 e as 22h00, recusam tudo o que se possa parecer com produtos do género, em favor de telenovelas, concursos e futebol. Entretanto, muitas análises globais mostram-nos que a ficção televisiva vive um dos seus períodos de maior variedade e fulgurância criativa. Como é que os espectadores dos canais generalistas o podem perceber? Das duas uma: praticando horários noctívagos ou... recorrendo ao mercado do DVD.