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1. No futebol, é bem verdade que alguns comentadores vão tendo o cuidado de sublinhar a valorização das equipas “médias” e a sua crescente capacidade de bater o pé aos “grandes”. O certo é que as regras dominantes do dispositivo televisivo trabalham exactamente em sentido contrário. Nem que seja através das perguntas que se fazem (ou não fazem). Assim, este fim de semana, face aos empates de Sporting, Porto e Benfica, a única questão pertinente parecia ser: como é possível que os “grandes” não tenham vencido os seus jogos? Ficou por lançar a alternativa. Ou seja: que qualidades demonstraram os outros (Nacional, Paços de Ferreira e Marítimo)? Julgava eu que essa seria a questão jornalística mais pertinente.
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3. Nos tempos heróicos da televisão portuguesa (e o conceito de heroísmo adquiriu, aqui, um perturbante valor simbólico), séries como ER/Serviço de Urgência tinham direito a grande evidência nos horários nobres. Hoje em dia, tais horários, nomeadamente entre as 19h00 e as 22h00, recusam tudo o que se possa parecer com produtos do género, em favor de telenovelas, concursos e futebol. Entretanto, muitas análises globais mostram-nos que a ficção televisiva vive um dos seus períodos de maior variedade e fulgurância criativa. Como é que os espectadores dos canais generalistas o podem perceber? Das duas uma: praticando horários noctívagos ou... recorrendo ao mercado do DVD.