Ao subirmos as escadas ouvimos logo, ainda à distância, os primeiros sons. Uns são mais tensos e graves. Outros sugerem sopros mais agudos... Sons que na verdade só compreendemos quando finalmente entramos na divisão central da Roundhouse, hoje um complexo que envolve um estúdio de gravação e espaços para espectáculos (de teatro e música) em Camden, no norte de Londres. Estes sons são o resultado prático da instalação Playing The Building, criada por David Byrne e que, tal e qual é pedido a quem por ali passa, desafia o visitante a "tocar a casa", como se fosse um instrumento musical.
A instalação foi originalmente criada para um espaço em Estocolmo (numa antiga fábrica, em concreto). Agora em Londres, a mesma ideia liga um órgão, com um teclado, aos elementos que constituem a estrutura da sala que a acolhe durante este mês. Cada conjunto de teclas está ligado a materiais concretos, podendo os dedos gerar sons que, literalmente, fazem "tocar" o edifício. O extremo esquerdo do teclado faz ressoar a estrutura, libertando uma trepidação grave que a envolve. Ao caminharmos para a direita do teclado passamos por uma zona ligada aos canos dos sistema de aquecimento da sala, acabando depois nos pilares em redor.
Uma sugestão é feita no chão, no centro da sala onde está o teclado: "please play" (por favor, toque). Não há quem não aceite o desafio... Os dedos começam por experimentar as teclas e os sons brotam de espaços à nossa volta. Primeiro, inevitavelmente gerando uma cacofonia sem ordem aparente numa sucessão de ressonâncias, percussões e sopros. Mas uma vez compreendida a relação entre teclado e espaço, "toca-se" finalmente a casa, desenhando percursos de som com evidente expressão física na sala que nos envolve. Um dos visitantes que ali estava naquela manhã desenhou repetidos percursos circulares, pontuando as sucessivas voltas com o ressoar dos graves mais profundos da estrutura. Dir-se-ia um admirador dos primeiros minimalistas...
Playing The Bulding explora de forma informal (e mesmo lúdica) a acústica do espaço e os sons da estrutura do edifício. No catálogo, Byrne explica a instalação como uma forma de "activar as qualidades de produção de som inerentes a todos os materiais". E reconhece a surpresa perante os resultados que gerou tanto em Estocolmo, como em Nova Iorque, onde esteve depois patente. Londres, pelos vistos não está a fugir à regra.
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Para compreender o funcionamento deste ‘edifício’ que toca, eis um esquema que o próprio David Byrne apresentou no seu site oficial. No centro, o teclado, do qual saem os cabos que o ligam aos elementos da estrutura e através dos duais passa o ar comprido que depois gera o som.
Para compreender o funcionamento deste ‘edifício’ que toca, eis um esquema que o próprio David Byrne apresentou no seu site oficial. No centro, o teclado, do qual saem os cabos que o ligam aos elementos da estrutura e através dos duais passa o ar comprido que depois gera o som.