quarta-feira, agosto 05, 2009

Rough Americana: três ideias

FOTO Joaquim Mendes / FCG

No passado domingo, no "Jazz em Agosto", o concerto de Rough Americana — DJ Mutamassik na mesa de misturas + Morgan Craft [foto] na guitarra eléctrica — deixou ecos de emoção e perturbação que vale a pena, ainda que de forma sucinta, tentar organizar. Vale a pena, acima de tudo, tentar perceber como a aridez daquela música experimental nos resiste, paradoxalmente acabando por nos mobilizar e seduzir. Aqui ficam três ideias rudimentares para lidar com as sonoridades de Rough Americana (sugerindo-se uma pas-sagem pelo respectivo site, em especial pelas peças da sua página de música):
1. A improvisação é, mais do que nunca, uma prática teatral e teatralizada: a deriva dos dois intérpretes pressupõe uma certa ocupação do espaço em que, por assim dizer, eles são actores da própria música que fazem nascer in loco.
2. A integração de sons eminentemente presentes — o transistor (ligado) que, a certa altura, Craft colocou no centro do palco ou os registos que Mutamassik foi fazendo com um vulgar e "antiquado" gravador de cassetes — confere a toda a performance um sentido eminentmente narrativo: mais do que construir peças musicais, trata-se de questionar o que significa fazer música naquele palco, naquele momento.
3. Tudo se passa como se Rough Americana trabalhasse em funcão de uma lógica a que, à falta de melhor, apetece chamar cinema-tográfica: assistimos ao nascimento de bandas sonoras de filmes (im)possíveis que, por assim dizer, ambiguamente, estão na cabeça dos ouvintes/espectadores; aliás, alguns trabalhos visuais & sonoros de Morgan Craft vão nesse sentido — reproduzimos aqui um deles, sugerindo uma visita à sua página no Internet Archive.

>>> O "Jazz em Agosto" retoma amanhã, dia 6, com o concerto de Dave Douglas & Brass Ecstasy.