George Lewis surgiu como figura marcante da abertura do "Jazz em Agosto" — primeiro à frente do colectivo George Lewis Sequel [foto], no concerto inaugural (dia 1); depois, já hoje, através da conferência sobre a AACM (Association for the Advancement of Creative Musicians, de Chicago), tendo como ponto de partida o seu livro A Power Stronger than Itself/ The AACM and American Experimental Music. Para além do precioso enquadramento histórico, cultural e político, dos anos 60 à actualidade, passando pelo "exílio" parisiense da AACM, Lewis deixou duas ideias fortes: primeiro, que a utilização da palavra jazz, tanto quanto a sua ausência em determinados momentos, reflecte uma dinâmica em que é fundamental a continuada resistência dos criadores a dicotomias simplistas; segundo, que a tradicional fronteira entre composição e improvisação deve, também ela, ser constantemente discutida e repensada, a ponto de poder fazer sentido considerar que compor é improvisar, improvisar é compor.
Depois, logo a seguir à conferência de Lewis, passando do Auditório Três para o Dois, o concerto de Rough Americana — nome que, por si só, define um cruzamento entre tradição e as mais agressivas arestas experimentais — apresentou um par tão desconcertante quanto fascinante: ela, DJ Mutamasski, integrando/manipulando sons que vão das raízes egípcias ao hip-hop; ele, Morgan Craft, com a sua guitarra preparada, transfigurando o instrumento de cordas numa espécie de base para uma verdadeira mesa de incríveis transfigurações sonoras. A meio caminho entre o improviso jazzístico e a performance teatral, Rough Americana deixou um singular desafio — o de criar uma espécie de utópica banda sonora para uma existência imaginária que, durante o tempo codificado de um concerto, se cruza com a nossa própria existência.