O concerto de Peter Evans deixou um lastro de fascínio e ambivalência. Com o seu trompete — aliás, dois trompetes, incluindo o piccolo —, Evans surge como algo mais do que um intérprete de música, whatever that means... Em boa verdade, a sua presença em palco cruza-se com pressupostos teatrais, num happening em que a verdade do próprio corpo (e do seu fôlego) emerge como essencial factor criativo.
Daí a sua singularidade física — e, insisto, fisiológica — num universo em que as delícias do virtual tendem a afastar-nos da intimidade dos corpos, reduzidos a factores mais ou menos intermutáveis de uma paisagem dominada pelas figurações derivadas da publicidade. Através de Peter Evans, bem pelo contrário, no espaço/tempo de um concerto, reencontramos a urgência de algo que vive, está vivo e partilha a sua euforia/desgaste/reconstrução. É música. É jazz. É uma arte paradoxal de solidão e cumplicidade.