terça-feira, agosto 25, 2009

Campanha eleitoral: políticos sem contexto

Interessante cartaz, este do CDS/PP, há dias surgido nas ruas. De facto, nele se projecta a consciência de um drama inerente às práticas da política portuguesa. A saber: como contextualizar as próprias figuras dos políticos e, por extensão, a sua acção?
Há algumas semanas, tinha surgido um outro cartaz, nesse caso do PS, em que José Sócrates era apresentado num contexto identificado de forma clara: não o povo "abstracto", não estes ou aqueles cidadãos, mas personagens femininas. De alguma maneira, o cartaz do CDS/PP, com Paulo Portas, é o primeiro a arriscar no mesmo terreno. Com um desconcertante paradoxo: "cada vez há mais pessoas", mas o modo de as figurar é banalmente neutro, ficando-se pelas silhuetas desenhadas. Aliás, o cartaz tem um evidente problema de informação/comunicação, uma vez que secundariza (desde logo na dimensão física) aquela que será a mensagem mais forte: "É preciso votar".
Ironicamente, a tentativa de não apresentar os líderes como meros figurantes de um cenário sem espessura humana foi, pelo menos por agora, abandonada pelo PS. Vários dos seus cartazes mais recentes retomam mesmo um estilo de mensagens "telegráficas" que já tinha sido usado, aliás com mais eficaz apelo visual, pelo PSD. Como neste: uma frase e a bandeira portuguesa como rodapé.


Entretanto o PSD também tem investido na figura de Manuela Ferreira Leite, mantendo-se nos limites de uma "vinheta" convencional, com a imagem da líder a "sugar" toda e qualquer possibilidade de, em fundo, emergir algo de palpável e humano. Tal como o PCP, aliás, através da campanha da CDU. Repare-se nestes dois exemplos (em boa verdade, todas as forças políticas, nomeadamente com os candidatos autárquicos, têm cartazes que se esgotam no mesmo género de pobre iconografia).



O Bloco de Esquerda, mantendo a coerência de um grafismo próprio, confronta-se com o mesmo problema, neste caso, de forma ainda mais desconcertante, porque apostando em figurar "os próprios cidadãos" que são defendidos na mensagem: dois rostos decorativos, afogados nos cantos; nenhum contexto "colectivo", a não ser a própria mensagem escrita.


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Como é óbvio, o drama que aqui se pressente, transcende (e muito) as questões da eficácia "imediata" deste ou daquele cartaz, do seu maior ou menor brilhantismo conceptual e gráfico. Decorre de uma carência simbólica de fundo: afinal, em que contexto se movem os políticos, como pensam esse contexto e como falam para ele? Ou ainda: que representações desse contexto têm para nos oferecer?
Tendo em conta a fragilidade global desta(s) iconografia(s), é inevitável deduzir que os discursos políticos vivem na dificuldade de comunicar com o próprio contexto que gerem — ou querem transformar. Como se no imaginário político fosse cada vez mais difícil imaginar o que é — e como é — o país em que os políticos se inserem e trabalham. Decididamente, o triunfo das lógicas televisivas de fazer política empobreceu o modo como os políticos se dirigem a cada um de nós.