sexta-feira, agosto 14, 2009

Blogs políticos sem... televisão

Algumas semanas passadas sobre o aparecimento de blogs com explícitas conotações partidárias, parece claro que, nesse contexto, não será lançado nenhum debate sobre televisão — sobre as relações entre televisão e política, sobre a articulação da televisão com os valores sociais, enfim, sobre a televisão como o maior poder cultural da vida contemporânea. Vale a pena, aliás, fazer uma pesquisa com a palavra "televisão": encontramos dois posts no Rua Direita, um no Simplex, qualquer deles acidental e anedótico em relação à televisão (o Jamais não oferece sistema de pesquisa, embora tenha, por exemplo, uma secção de "Gafes", em si mesmo uma emanação da obscenidade dos "apanhados" televisivos).
Não pretendo, nem de longe nem de perto, minimizar o trabalho que tem sido desenvolvido nesses três blogs: para além de alguns ataques fulanizados e banalmente eleitoralistas, seria grosseiro recusar o simples facto de, em todos eles, podermos encontrar esforços reais para enfrentar temas importantíssimos do nosso presente português.
A questão que coloco é outra. E é, sobretudo, de outra natureza. Bem sei que não é fácil discutir televisão em Portugal. Há uma insinuação corrente — e com imenso poder ideológico — que tenta fazer crer que qualquer discurso de algum modo ligado à área da crítica apenas procura que se diga "mal" da televisão (passa-se o mesmo, aliás, em relação ao cinema). Não tenho dúvidas sobre a dificuldade de combater tal insinuação e todas as demagogias por ela favorecidas. Em todo o caso, 40 anos passados sobre o aparecimento das 'Conversas em Família', de Marcello Caetano [foto], continua a ser motivo de radical perplexidade o facto de nenhum partido político colocar a televisão como prioridade absoluta no seu espaço de análise e no elenco do seu programa de intervenção social, económica e cultural.
A preocupação de montar intervenções públicas dos líderes políticos que possam passar, de preferência em directo, nos telejornais das 8 da noite não basta — é mesmo sintoma de uma visão meramente instrumental do poder televisivo. Na prática, favorece a irresponsabilização social desse mesmo poder.