No caso do Simplex, insiste-se num humor (?) alicerçado no tema "laranja" (o fruto e a cor), tomando agora como pretexto a já célebre referência de Manuela Ferreira Leite ao papel dos iates na dinâmica económica — é certo que as palavras de Ferreira Leite foram politicamente pueris, mas o comentário visual acaba por encerrar tudo numa "poética" tão deslocada quanto inconsequente. Finalmente, no Jamais encontramos o exemplo mais desastroso desta ronda de "intervenção política" pelas imagens. Para ilustrar "a visão 'socrática' da escola", surge uma sala de aula degradada que, na melhor das hipóteses, talvez pudesse funcionar como cenário da 'Zona' de Stalker. O certo é que não parece que alguém tenha querido citar Andrei Tarkovski ou qualquer contexto específico. A abstracção meramente naïf, somada a uma única identificação no canto esquerdo da fotografia (Getty Images), não ajudam à sua remissão para um contexto português, seja ele qual for — aliás, neste contexto, a palavra "remissão", no duplo sentido de indicativo e acção de perdão, não pode deixar de adquirir uma inesperada ironia face a tão básicos sistemas de figuração.
Conclusão inevitável: estes são exemplos de uma relação com as imagens (e através delas) que se esgota num entendimento simbólico (e do simbólico) dos mais rudimentares — suposta-mente, "devolve-se" ao adversário a simbologia que ele não vê ou não quer ver. Trata-se de uma prática de mero transporte discursivo, não da criação de um discurso próprio.
Como contraponto, vale a pena recordarmos uma imagem da campanha de François Mitterrand, em 1981. Para sugerir que a história se repete, pode ou deve repetir? Para santificar o demasiado humano Mitterrand? Nada disso. Exactamente o contrário: nada se repete, nada se pode repetir, nada se vai repetir, mesmo quandos nos repetimos face àquilo que não se repete.