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Se consultarmos os dados biográficos de Pete Docter, realizador de Up/Altamente, ficamos a saber que foi uma criança introvertida: em vez de participar nas brincadeiras dos colegas, preferia ficar nos terrenos à volta da casa da família, em Bloomington, Minnesota, fingindo ser... Indiana Jones. O pormenor é inevitavelmente revelador. Ele faz parte de uma geração que cresceu a ver as aventuras filmadas por Steven Spielberg (Docter nasceu em 1968; o primeiro Indiana Jones, Os Salteadores da Arca Perdida, surgiu em 1981), para quem os modelos de referência dos desenhos animados ostentavam ainda a chancela dos estúdios Disney.
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Quer isto dizer que Up/Altamente é um objecto exemplar do desenvolvimento da Pixar. Por um lado, preserva-se aqui o modelo de fábula social e ecológica, agora centrada no simpático velhinho que decide reagir à especulação imobiliária... voando com a sua casa; por outro lado, a cor e o movimento são cada vez mais sofisticados, mostrando que o desenho digital há muito consolidou as suas especificidades.
Apesar de alguns momentos fulgurantes (com inevitável destaque para o primeiro voo da casa), fica uma dúvida metódica: até que ponto a “necessidade” de inserir determinados números, cómicos ou musicais, não estará a pôr em causa a própria singularidade criativa da Pixar e dos seus elementos? Digamos que a história continua, tanto mais que Up/Altamente está a ser lançado com o primeiro trailer de Toy Story 3, a estrear no Verão de 2010.