segunda-feira, agosto 24, 2009

Apenas 15 filmes

PERSONA (1966)
de Ingmar Bergman

No seu blog 'Devaneios', Ricardo Gross resolveu corresponder a uma sugestão que tem circulado pela Internet. A saber: fazer uma lista de "15 filmes que nunca esqueço", tanto quanto possível em "15 minutos". Mais ainda: passando a sugestão a outras pessoas, de modo a tentar criar uma teia de correspondências, diferenças e contrastes.
Sendo eu um dos convocados, aqui estou a responder, esperando corresponder. Faço-o por razões meramente pessoais. Ou seja: sei que o amor do cinema — cinefilia, hélas! — é coisa transparente no Ricardo e isso sempre me mereceu carinho e respeito. Por isso mesmo, não posso deixar de referir também que sinto a maior relutância, para não dizer resistência, face à compulsiva prática de listas e tops que contamina muitos espaços da Internet. Exemplo? Só como pesadelo poderia imaginar que alguém se lembrasse de fazer um "top das melhores cenas de hóquei em filmes que... não são sobre hóquei" — pois bem, mais do que pesadelo, tal disparate existe.
Abomino as práticas dessa "cinefilia" pueril que está a transformar o cinema numa paisagem de coisas pitorescas, anedóticas, sem espessura e, sobretudo, sem história. A proposta de que o Ricardo se assumiu como mediador envolve, pelo menos, um factor salutar: a de reconhecer que qualquer memória (cinematográfica, neste caso), envolve um insuperável para mim. Aliás, se consigo nomear a origem do meu gosto em escrever sobre cinema, situo-a na consciência da infinita pluralidade da formulação desse para mim, espectador a espectador.
Infelizmente, na Internet, em particular na blogosfera, predomina (é mesmo promovido) o preconceito segundo o qual o crítico de cinema é aquele que quer "convencer" os outros. Como se eu me sentisse realizado (?) por alguém me dizer: "penso exactamente da mesma maneira". Ora, se há coisa que eu sei, de seguro saber, é que ninguém pensa exactamente da mesma maneira. E choca-me que cada um possa não fazer uso disso — a singularidade do seu pensar — até às mais extremas consequências.
Nesse sentido, confesso-me desiludido: conheci o cinema (em particular o cinema português) em momentos e contextos em que a prática da diversidade podia ser um factor de enriquecimento e criação, não o pretexto para a avalancha de insinuações e insultos que criaram raízes na Internet. Não é nostalgia, é solidão. Mas, enfim, meu caro Ricardo, uma lista é também, por definição, uma afirmação de contraditória solidão — a tua, a minha. Aqui tens as minhas contradições, com o meu agradecimento.

1. SYLVIA SCARLETT / Sylvia Scarlett (George Cukor, 1935)

2. LIMELIGHT / Luzes da Ribalta (Charlie Chaplin, 1952)

3. MADAME DE… / Madame De… (Max Ophuls, 1953)

4. THE LADIES MAN / O Homem das Mulheres (Jerry Lewis, 1961)

5. SPLENDOR IN THE GRASS / Esplendor na Relva (Elia Kazan, 1961)

6. GERTRUD / Gertrud (Carl Th. Dreyer, 1964)

7. LILITH / Lilith e o Seu Destino (Robert Rossen, 1964)

8. PERSONA / A Máscara (Ingmar Bergman, 1966)

9. LA SIRÈNE DU MISSISSIPI / A Sereia do Mississipi (François Truffaut, 1969)

10. TRISTANA / Tristana (Luis Buñuel, 1970)

11. FONTANE – EFFI BRIEST / Effi Briest (Rainer Werner Fassbinder, 1974)

12. HITLER – EIN FILM AUS DEUTSCHLAND / Hitler – Um Filme da Alemanha (Hans-Jürgen Syberberg, 1977)

13. PRÉNOM CARMEN / Nome Carmen (Jean-Luc Godard, 1983)

14. DEAD RINGERS / Irmãos Inseparáveis (David Cronenberg, 1988)

15. DRÔLE D’ENDROIT POUR UNE RENCONTRE (François Dupeyron, 1988)

HITLER - EIN FILM AUS DEUTSCHLAND (1977)
de Hans-Jürgen Syberberg