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Não simplifiquemos. Sobretudo, evitemos favorecer o ruído, a gritaria e os sensacionalismos que as nossas televisões continuam a não querer suprimir. Além do mais, em termos pessoais, não quero esconder que o formato de 5 para a Meia Noite me suscita uma resistência muito forte. Independentemente de quem o conduz (sucessivamente, de segunda a sexta: Filomena Cautela, Fernando Alvim, Nilton, Pedro Fernandes e Luís Filipe Borges), vejo o programa como a materialização de um cliché, também ele um preconceito, que obriga os apresentadores a cumprir as regras de uma imagem da "juventude" em que tudo tem que ser "ligeiro", "divertido" e "espectacular". Na prática, quando tudo tem que ser assim, é difícil fazer passar algum efeito de seriedade. E por uma razão muito básica: qualquer valor dramatúrgico de comunicação, do divertido ao sério, nasce não da sua insistente reiteração, mas do contraste e confronto com os seus contrários — Chaplin continua moderno, hélas!
Dito isto, importa acrescentar que, pelo discurso de Solange F., passou um súbito e, insisto, perturbante efeito de verdade. De repente, a televisão conseguiu fazer-nos perceber que a transparência do real não é uma coisa automática e adquirida. Foi bom escutar algumas palavras que, no meio da agitação gratuita da paisagem televisiva (e do próprio programa), deixam alguma marca. E nos levam a pensar com elas, e através delas.