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Do programa do dia 12 de Junho (por certo um dos melhores de sempre de Os Contemporâneos), ficará para a história a simpática senhora de 72 anos — com o seu irresistível cãozinho com medo do microfone — que, num riso desconcertante e evasivo, acabou por confessar: "Eu nunca vi um homem nu." Como se pode ver pelas imagens em baixo, num misto de crueldade e ternura, o programa transformou a sua confissão em ficção espontânea (com a mesma lógica com que falamos de combustão espontânea).
O resultado está para além de todos os códigos de todo o humor que, actualmente, se pratica na televisão portuguesa — é um quadro vivo de um viver lusitano em que o humor mais angelical se confunde com uma tristeza seca, insolitamente desprovida de mágoa. De facto, e muito ao contrário do que nos ensina a cultura pornográfica de concursos, telenovelas e imprensa cor de rosa, a nudez não é o limite de coisa nenhuma, muito menos uma revelação de qualquer transcendência existencial. Não passa de outra maneira de vestirmos aquilo que somos, e também de, melhor ou pior, lidarmos com o que julgamos ser. Fica o riso cristalino da senhora, pontuado pelo pânico de um cãozinho apanhado numa história que para ele, suprema alegria, permanece sem nexo.