Com as suas entrevistas de rua, conduzidas por Bruno Nogueira, Os Contemporâneos inventaram uma espécie de anti-formato televisivo, por certo de existência limitada, mas nem por isso menos acutilante e sugestivo. Apetece dizer que é qualquer coisa que está para além dos "apanhados" e do seu continuado menosprezo pela natureza humana. Mas tal definição não basta: num certo sentido, estamos aquém desses mesmos "apanhados", num espaço de comunicação em que todos os erros, ingenuidades e imprecisões se expõem numa desordem ordenada que, tal como nos sonhos analisados por Freud, nos confronta, em última instância, com os sentidos latentes de uma verdadeira narrativa.
Do programa do dia 12 de Junho (por certo um dos melhores de sempre de Os Contemporâneos), ficará para a história a simpática senhora de 72 anos — com o seu irresistível cãozinho com medo do microfone — que, num riso desconcertante e evasivo, acabou por confessar: "Eu nunca vi um homem nu." Como se pode ver pelas imagens em baixo, num misto de crueldade e ternura, o programa transformou a sua confissão em ficção espontânea (com a mesma lógica com que falamos de combustão espontânea).
Do programa do dia 12 de Junho (por certo um dos melhores de sempre de Os Contemporâneos), ficará para a história a simpática senhora de 72 anos — com o seu irresistível cãozinho com medo do microfone — que, num riso desconcertante e evasivo, acabou por confessar: "Eu nunca vi um homem nu." Como se pode ver pelas imagens em baixo, num misto de crueldade e ternura, o programa transformou a sua confissão em ficção espontânea (com a mesma lógica com que falamos de combustão espontânea).
O resultado está para além de todos os códigos de todo o humor que, actualmente, se pratica na televisão portuguesa — é um quadro vivo de um viver lusitano em que o humor mais angelical se confunde com uma tristeza seca, insolitamente desprovida de mágoa. De facto, e muito ao contrário do que nos ensina a cultura pornográfica de concursos, telenovelas e imprensa cor de rosa, a nudez não é o limite de coisa nenhuma, muito menos uma revelação de qualquer transcendência existencial. Não passa de outra maneira de vestirmos aquilo que somos, e também de, melhor ou pior, lidarmos com o que julgamos ser. Fica o riso cristalino da senhora, pontuado pelo pânico de um cãozinho apanhado numa história que para ele, suprema alegria, permanece sem nexo.