terça-feira, julho 07, 2009

Michael Jackson: o efeito O.J.

Digamos, antes de tudo o mais, e para não simplificar o que é nunca é simples: O.J. Simpson e Michael Jackson são ambos figuras da iconografia da cultura televisiva, mas as suas semelhanças terminam aí — o primeiro não passa de um incidente mediático, o segundo emerge como criador de um fascinante universo artístico, cuja energia persiste muito para além de qualquer anedotário mediático. Dito isto, vale a pena sublinhar também o modo como os padrões televisivos condicionam a nossa percepção do mundo, das imagens, do mundo das imagens e das imagens do mundo.

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A imagem de cima regista um instante da fuga de O.J. Simpson, a 17 de Junho de 1994, no seu Ford Bronco — o seu acompanhamento nas televisões dos EUA (potencialmente: do mundo todo) transformou-se num momento inevitavelmente emblemático da história das formas televisivas.

Esta imagem é de hoje e mostra o carro funerário de Michael Jackson. Para além de todas as diferenças, o que persiste é o terrível poder do fait divers televisivo: basta um objecto em movimento para que isso seja sustentado e oferecido como "efeito de real".
Em boa verdade, estamos no interior de um sistema figurativo & ideológico em que já nada vemos e não ansiamos ver seja o que for: expõem-nos um alvo em movimento e acreditamos que aí se concentram todos os sentidos do mundo. Por vezes, quando um cineasta faz planos que excedam a "velocidade" vazia da televisão, imediatamente o classificam de "monótono" ou "repetitivo". Quando a televisão prolonga as suas próprias imagens, sem que isso nem sequer traduza, ao menos, algum ganho informativo, niguém diz nada...
Seguir o ponto em movimento: a linguagem mais esquemática do mais simplista jogo de video passou a funcionar como "prova" de verdade. De que falamos quando falamos do que não vemos?