Agnès Varda fez 81 anos no passado dia 30 de Maio. Com o seu filme mais recente, As Praias de Agnès, a sua obra torna-se mais pessoal do que nunca — esta entrevista foi publicada no Diário de Notícias (25 de Julho), com o título 'Filmo fantasias que vêm das minhas memórias'. [1]
Nesse contexto, como é que situa um filme como A Felicidade (1965)?
Aí está: é um filme fora de tudo o que se estava a fazer naquela altura. Nasceu do meu interesse pelo estudo da cor nos pintores impressionistas. Inspira-se num poema de Aragon: “Quem fala na felicidade tem sempre os olhos tristes”.
Um pouco como “a felicidade não é alegre”?
Exactamente. Como “a felicidade não é alegre” no final de Le Plaisir (1952), de Max Ophuls, inspirado em Maupassant. São coisas que soam verdade.
Parece-lhe que a utopia de felicidade que estava no filme pode tocar os espectadores de hoje?
Desejar a felicidade é uma coisa natural nos seres humanos. Um pouco como os ricos que querem ser mais ricos: as pessoas que têm alguma felicidade querem sempre um pouco mais. Ao mesmo tempo, a construção da felicidade não funciona sem que se estabeleça alguma moral, seja ela pessoal ou colectiva — o filme é sobre isso.
O cinema pode ser um instrumento de descoberta dessa moral?
Não apenas o cinema. Em boa verdade, qualquer história. Para mim, cada filme corresponde a um momento de procura. Fui sempre uma cineasta de pesquisa, nunca utilizei receitas, procurei sempre qualquer coisa de diferente. No caso de As Praias de Agnès, a experiência foi particularmente difícil.
Pode dizer-se que, sendo estética, foi sobretudo uma experiência emocional.
Emocional porque não se trata apenas de contar a sua vida, mas de perguntar: como fazê-lo com os meios do cinema?
Quais são os efeitos desse trabalho nos que lhe são mais próximos?
A minha família? Os filhos? Os netos? Estão no filme. Tentei ilustrar o próprio conceito de família como um espaço de protecção que está para além do facto de nos encontrarmos e comermos juntos.
Será que também existe uma família do cinema?
É uma coisa que se diz nas cerimónias dos Césares ou dos Óscares, mas não acredito muito nisso.
Nesse contexto, como é que situa um filme como A Felicidade (1965)?
Aí está: é um filme fora de tudo o que se estava a fazer naquela altura. Nasceu do meu interesse pelo estudo da cor nos pintores impressionistas. Inspira-se num poema de Aragon: “Quem fala na felicidade tem sempre os olhos tristes”.
Um pouco como “a felicidade não é alegre”?
Exactamente. Como “a felicidade não é alegre” no final de Le Plaisir (1952), de Max Ophuls, inspirado em Maupassant. São coisas que soam verdade.
Parece-lhe que a utopia de felicidade que estava no filme pode tocar os espectadores de hoje?
Desejar a felicidade é uma coisa natural nos seres humanos. Um pouco como os ricos que querem ser mais ricos: as pessoas que têm alguma felicidade querem sempre um pouco mais. Ao mesmo tempo, a construção da felicidade não funciona sem que se estabeleça alguma moral, seja ela pessoal ou colectiva — o filme é sobre isso.
O cinema pode ser um instrumento de descoberta dessa moral?
Não apenas o cinema. Em boa verdade, qualquer história. Para mim, cada filme corresponde a um momento de procura. Fui sempre uma cineasta de pesquisa, nunca utilizei receitas, procurei sempre qualquer coisa de diferente. No caso de As Praias de Agnès, a experiência foi particularmente difícil.
Pode dizer-se que, sendo estética, foi sobretudo uma experiência emocional.
Emocional porque não se trata apenas de contar a sua vida, mas de perguntar: como fazê-lo com os meios do cinema?
Quais são os efeitos desse trabalho nos que lhe são mais próximos?
A minha família? Os filhos? Os netos? Estão no filme. Tentei ilustrar o próprio conceito de família como um espaço de protecção que está para além do facto de nos encontrarmos e comermos juntos.
Será que também existe uma família do cinema?
É uma coisa que se diz nas cerimónias dos Césares ou dos Óscares, mas não acredito muito nisso.