
Yann Arthus-Bertrand é um fotógrafo francês (nascido em Paris, em 1946), militante das causas ecológicas. Recentemente, no mercado português, pudemos descobrir o seu trabalho com o filme Home-O Mundo É a Nossa Casa, viagem ao mesmo tempo documental e poética através de um planeta ameaçado pelo aquecimento global. À semelhança do que aconteceu noutros países, o filme foi objecto de uma exposição invulgar, uma vez que, no mesmo dia (5 de Junho), surgiu nas salas, nos circuitos de DVD e num canal de televisão (RTP2), isto para além de, durante algum tempo, ter estado disponível na Internet.
Paralelamente a Home-O Mundo É a Nossa Casa, Yann Arthus-Bertrand foi desenvolvendo um projecto também com várias ramificações (filme, livro, Net), a que deu a designação de “6 Milliards d’Autres” ou, na sua versão inglesa, “6 Billion Others”. Trata-se de celebrar a pluralidade dos mais de 6 mil milhões de seres humanos que habitam o planeta Terra através da multiplicação (mais de cinco mil, neste momento) de imagens e entrevistas.

O valor de uma experiência deste género não se mede em termos meramente humanistas ou ecológicos. “6 Billion Others” é também o produto de uma ética que resiste aos efeitos mediáticos mais banais que tendem a formatar a própria ideia de globalização. De facto, a ilusão mais corrente dessa formatação impõe uma confusão automática entre globalização e transparência: como se a possibilidade de desfrutarmos de canais de acesso a informações de todo o planeta gerasse um conhecimento automático, e automaticamente transparente, de qualquer cidadão para qualquer cidadão.
No sistema de linguagens do nosso mundo hiper-mediatizado, o directo televisivo será a mais poderosa figura de retórica desse tipo de ilusões. Não está em causa, como é óbvio, que o directo possa funcionar como um espantoso instrumento de partilha de informação. O que importa questionar é a ilusão de “igualdade” que, muitas vezes, nele se gera. Com alguma ironia (mas também com absoluta pertinência), importa lembrar que não é o facto de usarmos o mesmo tipo de telemóvel de um pescador de uma ilha do Pacífico que torna as nossas experiências iguais ou intermutáveis...
Yann Arthus-Bertrand alerta-nos para a complexidade inerente à globalização: a partir do uno (o planeta em que tudo se liga com tudo), confronta-nos com as infinitas formas do humano. Em última instância, o seu projecto conseguirá que, através da consciência da multiplicidade dos outros, olhemos de forma mais incisiva para o lugar onde vivemos. Aqui e agora.