Patrick Wolf é, aos 25 anos, uma das certezas maiores de uma nova geração de músicos que encara a pop com uma atitude de horizontes largos, acima de fronteiras de género, cruzando formas e linguagens, juntando referências rumo a ideias que são mais que uma soma de parcelas. The Bachelor, o seu quarto álbum de originais, colhe experiências nos três discos anteriores (concretamente as electrónicas de Lycanthropy, a folk de Wind In The Wires e pop sinfonista de The Magic Position). Não o faz para expor um panorama de uma voz criativa em construção, mas para nestes encontros procurar uma síntese dos caminhos já ensaiados, nela descobrindo finalmente a “voz” autoral que perseguia. Neste seu novo disco Patrick Wolf conta com colaboradores como Tilda Swinton, Alec Empire ou Matthew Herbert. Solistas convidados que contribuem para a construção de um imponente ciclo de canções que visitam tanto sonhos de grandiosidade sinfonista como instantes de diálogo mais íntimo com antigas tradições folk. Este é um disco reflectido, de arranjos elaborados. Mas, como nos anteriores álbuns, um espelho das emoções de um autor vibrante. Um pequeno grande mundo de acontecimentos que faz acreditar, uma vez mais, que a canção pop ainda pode ser um motor de acontecimentos surpreendentes. The Bachelor é, até agora, o melhor disco de Patrick Wolf e a definitiva conquista de um grande talento.
Patrick Wolf
“The Bachelor”
Bloody Chamber
5 / 5
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Chama-se Axel Willner, mas conhecemo-lo como The Field. Há cerca de dois anos lançou pela Kompact Records o magnífico From Here We Go Sublime disco, que juntamente com This Bliss de Pantha du Prince, ajudou a definir uma etapa rica em acontecimentos na área de um melodista e inteligente techno minimal. Meses depois novo passo confirmava a solidez de uma linguagem atenta às heranças dos minimalistas em Sound Of Light. Yesterday and Today assinala um novo passo, com um pé numa lógica de continuidade face ao que conhecíamos de outros tempos, mas também com espaço para alguma surpresa (e ousadia). Em lugar das paisagens digitais do álbum anterior, o novo disco acolhe algumas noções de corpo material, seja pela colaboração do baterista dos Battles (John Stainer), seja na deliciosa erupção pop de Everybody’s Got To Learn Sometimes, dos Korgis, em versão que representa um dos momentos-chave de uma identidade em mudança que este álbum traduz. De Sound Of Light traz a capacidade em desenvolver uma ideia de música repetitiva que desvenda segredos aos poucos. Um bom disco para clientes das electrónicas de aura tranquila e alma minimalista.
The Field
“Yesterday & Today”
Kompakt/Flur
4 / 5
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Dois anos depois de Emmerald City (que por aqui foi, para alguns, finalmente, a janela para a descoberta de uma interessante voz criativa), o regresso do norte-americano John Vanderslice faz-se com um álbum com sabor a luminosidade pop e a… Verão. Em Romanian Names reencontramos a tranquilidade adulta de discos anteriores porém, face ao disco de 2007, acrescentando uma aura pop mais evidente, explorando, como o fizera já em discos do seu passado, os sintetizadores como ferramenta útil na criação mais que meras telas onde vivem estas canções. De onde brota esta luz? Acima de tudo parece reflexo directo do final da era Bush (que o músico chegou a comentar com alguma virulência em variadas canções), revelando o disco pouca vontade de procurar uma agenda política que dominou muitos dos temas que fizeram as história de outros álbuns seus. Ao dissipar de sombras nos assuntos, Vanderslice junta também aqui um cuidado formal mais apurado que nunca na arte final das canções, co-assinando a produção com Scott Solter, um colaborador já recorrente junto do seu trabalho. Não repete a excelência de um Emmerald City, mas está ao nível de um Pixel Revolt (2005), mantendo vibrante uma interessante voz da canção pop indie norte-americana.
John Vanderslice
“Romanian Names”
Dead Oceans / Popstock
4 / 5
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Já lá vão quase dez anos desde os dias (ou, antes, as noites) em que o som dos Fischerspooner anunciava um futuro com sabor a revisitação de memórias de inícios de 80. Emerge fez-se hino electroclash e o longa-duração de estreia ficou registado na história como o único álbum verdadeiramente significativo do movimento. Seguiu-se longa espera, um segundo álbum inexplicavelmente desinspirado e, desde então a dúvida estava instalada: sobreviveriam os Fischerspooner à memória da aventura noctívaga à qual surgiram associados nos primeiros tempos? Entertainment talvez não seja a resposta definitiva, até porque não resolve o sim ou sopas em que o grupo tem estado mergulhado, não recuperando por um lado o “momento” do álbum de estreia, mas revelando canções e ambientes bem mais interessantes que os do segundo disco. O álbum assinala um reencontro com a pop electrónica, com as luzes da noite. Ultrapassa claramente o tropeção de Odissey, mas não parece ter argumentos para ajudar a escrever, como o fez em 2001, as linhas da frente da banda sonora do presente.
Fischerspooner
"Entertainment"
FS Studios
3 / 5
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Confesso que nunca entendi o entusiasmo de muitos pelos Phoenix. Uma ou outra bela canção pop, sem dúvida. Mas nunca, até hoje, um álbum do grupo francês mostrou nem uma colecção ímpar de grandes canções nem o saber suportar de uma qualquer grande ideia de fio a pavio… Vêm do mesmo subúrbio de Versailles que nos anos 90 nos revelou os Air e Daft Punk, mas desde cedo mostraram ter personalidade que não pedia a caução dos vizinhos para marcar terreno. De resto, com guitarras definiram sempre uma matriz distinta. A cada álbum deixaram sempre uma ou outra canção… E agora, em Wolfgang Amadeus Phoenix, parecem finalmente mostrar um alinhamento mais capaz de sobreviver ao botão “next” do leitor de CD. Produzido por Philipe Zdar (Cassius), o disco mostra sinais de um interesse pelo legado pop/rock de finais de 70 e 80 que tantos outros discos tem alimentado nos últimos anos. Evita as referências mais óbvias e recorrentes, integra as genéticas evocadas num contexto que não se esgota em decalques, aqui ou ali revelando sintonia com ideias pop que nos últimos tempos nos têm chegado da Austrália. E doseia com sentido de bom ‘chef’ os ingredientes eléctricos e electrónicos. Pas mal...
Phoenix
“Wolfgang Amadeus Phoenix”
V2 / Edel
3 / 5
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Também esta semana:
Carminho, Siouxsie & The Banshees (live), Iggy Pop, Iron & Wine, Pink Mountaintops, Loop, Elvis Costello, Franz Ferdinand (dub)
Brevemente:
8 de Junho: Sonic Youth, Little Boots, Kasabian, Placebo, The Housemartins (reedição), Neil Young (archives), Orbital
15 de Junho: Ray Davies, George Harrison, Chris Isaak, Lemonheads, Sunset Rubdown
22 de Junho: Regina Spektor, Gossip, Tortoise, Dinosaur Jr.
Junho: Tortoise, Duran Duran (reedições + DVD), VV Brown, Jeff Buckley, Frankmuzik, Peter Hammil, God Help The Girl, Gossip, Dirty Projectors, Fiery Furnaces, Wilco, Carminho, Moby
Julho: Chris Garneau, Cass McCombs, David Bowie (VH-1), Florence and The Machine
PS. A crítica ao disco de Patrick Wolf é uma versão editada de um texto publicado na revista 'NS'