Dark Matter/Matéria Negra (2007), é uma daquelas preciosidades cinematográficas que os mercados não sabem (ou não querem pensar) como promover — um filme que, além do mais, tem Meryl Streep num dos principais papéis... E ganhou um prémio, em 2007, no Festival de Sundance...
Por mim, descobri-o de forma mais ou menos acidental a passar num canal do cabo (TVCine 3). Verifiquei depois que, de facto, não estreara nas salas, tendo sido objecto de um anónimo lançamento em DVD, em 2008. É bem certo que esta marginalização está longe de ser exclusivamente portuguesa, uma vez que o filme estreou nos EUA em apenas cinco salas (número terrível, sobretudo se pensarmos que um lançamento mediano ocupa aí, no mínimo, um milhar de salas), gerando receitas ínfimas (pouco mais de 30 mil dólares).
Dark Matter é a primeira realização cinematográfica de Chen Shi-Zheng (n. 1963), celebrado encenador de ópera nascido na China, radicado nos EUA desde 1987. Inspirado numa história verídica, o filme segue a odisseia de um talentoso estudante chinês (Liu Ye) que, numa universidade americana, depara com a resistência institucional personalizada no professor (Aidan Quinn) que orientada as suas investigações. Apesar do apoio de uma mentora (Streep) das relações culturais EUA/China, ele vai viver um drama de desenraizamento em cujo horizonte se desenha sempre a imagem dos pais e da sua modesta existência na China.
O filme dá-nos tudo isso com a aparente ligeireza de quem traça uma crónica social mais ou menos irónica para, a pouco e pouco, instalar um sentimento de angústia existencial que desemboca na espantosa sequência final. Aproveitando as ligações de Chen Shi-Zheng com o mundo da música, apetece dizer que há, aqui, uma musicalidade das relações humanas em que os incidentes do quotidiano se ligam com as emoções mais secretas de cada personagem — é um filme que "anda por aí", à procura de espectadores que o descubram...