Uma das primeiras experiências de ficção científica na história do cinema, Aelita (URSS, 1924), realizado por Yakov Protazanov, com base na adaptação de um romance então recentemente publicado por Alexei Tolstoi, propõe uma história vivida entre dois planetas, a Terra e Marte, do primeiro partindo um jovem aventureiro russo num foguetão e, com ele, as sementes para uma revolta inspirada nos ideais da revolução de 1917, auxiliando uma rainha tiranizada pelo seu pai. Apesar do subtexto ideológico (que na verdade só ganha peso dramático na etapa final do filme), ‘Aelita’ é um bom exemplo de construção de uma narrativa com evolução em paralelo entre cenas do quotidiano na Terra de inícios dos anos 20 (em concreto a cidade de Moscovo) e a capital marciana, onde, através de uma recente invenção cuja existência os cidadãos do planeta desconhecem, a rainha Aelita observa a vida no planeta azul, nele descobrindo um jovem cientista por quem se apaixona... Naturalmente, o mesmo que a irá visitrar num foguetão, alguns dias mais tarde... Aelita é uma interessante experiência visual, revelando sobretudo nas sequências marcianas uma série de códigos de arquitectura e design em sintonia com as linhas mestras do construtivismo, definindo formas e soluções que tiveram depois imediata consequência em outras experiências na área, nomeadamente alguns dos serials produzidos nos EUA pouco depois, entre os quais o globalmente célebre Flash Gordon. A edição em DVD que agora se apresenta entre nós devolve à vida o filme depois de um trabalho de restauro da imagem, trocando o silêncio desta produção dos dias do cinema mudo por uma banda sonora que usa peças de Scriabin, Stravinsky e Glazunov. Nos extras seve-se um comentário, galerias de imagens e alguma informação complementar sobre este clássico pioneiro do cinema de ficção-científica.
PS. Versão editada de um texto originalmente publicado na revista NS