Nem a pose operática de Bela Lugosi nos filmes de Tod Browning, nos anos 30 de Hollywood, nem os dentes ameaçadores de Christopher Lee nas produções da Hammer Films, na Inglaterra das décadas de 50/60 — os vampiros de Deixa-me Entrar (título inglês: Let the Right One In) são adolescentes, quase ainda crianças. Depois de Twilight/Crepúsculo, esta produção sueca com assinatura de Tomas Alfredson ilustra o perverso "rejuvenescimento" de um género que, por assim dizer, recuou às suas mais primitivas origens poéticas.
O resultado é uma delicada fábula de amor e morte (noblesse oblige) que se deixa ler também como uma desencantada crónica sobre a solidão de personagens com inevitáveis conotações sociológicas com o nosso presente. Dir-se-ia que as crianças/adolescentes das novas histórias de vampiros são exilados de um mundo em que as mais diversas instituições — a começar pela escola e pela família — têm a sua autoridade simbólica dramaticamente enfraquecida. Insolita-mente, isto quer dizer também que por um filme como Deixa-me Entrar perpassa um dramático realismo social.