domingo, maio 10, 2009

O caminho das estrelas

Os nomes são os que conhecemos há já mais de 40 anos. O decidido comandante Kirk, o sempre lógico Spock, o timoneiro Sulu, o rabugento Dr. McCoy, a eficiente oficial de comunicações Uhura, o "desenrascado" chefe de máquinas Scotty, o ingénuo oficial Chekov... Porém, no lugar dos veteranos que vimos nos últimos filmes com a geração "original", encontramos uma série de rostos novos. Mais jovens que nunca, abrindo janelas para a descoberta de histórias anteriores a muitas das que fomos vendo no pequeno e grande ecrã. Este é um dos pontos de partida para o reencontro com Star Trek no cinema. Mas as novidades não se esgotam aqui.
A aventura começou em inícios dos anos 60 e tinha então a televisão como destino. Lá chegou em 1966, com uma primeira série que acabou retirada da programação ao cabo de três anos, por falta de audiências... O "fenómeno" Star Trek nasce, na verdade, apenas nos anos 70, com repetições de velhos episódios (e só depois de uma discreta e não muito bem recebida série de desenhos animados). Gera-se um entusiasmo que ganha depois forma, a partir da década de 80, entre quatro novas séries televisivas e dez filmes.
As décadas de 80 e 90 fizeram de Star Trek um sucesso planetário, acrescentando às séries e filmes um mundo de livros (de ficções a manuais técnicos sobre as naves e mundos visitados) e merchandise.... Mas com a chegada do século XXI a velha saga que ficciona o século XXIII mostrou sinais de exaustão. Depois do êxito global das séries Next Generation, Deep Space Nine e Voyager, a carreira de Star Trek: Enterprise acabou cancelada após apenas quatro épocas de produção. E, depois do sucesso de Star Trek: First Contact (a oitava longa-metragem, de 1996), os dois filmes seguintes mostraram resultados bem mais discretos, o mais recente, Star Trek Nemesis (2002) nem sequer atingindo metade dos resultados de First Contact... Não era a primeira vez que este universo de ficção conhecia uma crise. Mas desta vez o plano de salvamento tinha de ser diferente.

A resposta chega pelas mãos de J.J. Abrams, com um filme que propõe um novo começo. E a presença do criador de Lost (e também realizador de Cloverfield) a bordo da saga chamou logo as atenções. Convocou depois dois "trekkies" (ou "trekkers", outra expressão igualmente válida) para completar a equipa criativa, entregando assim a escrita do argumento a Roberto Orei e Alex Kurtzman. Juntos transportaram os heróis da série televisiva original para a sua juventude. Chris Pine, um actor de 28 anos, surge como o novo rosto da figura que, durante mais de quatro décadas associámos a William Shatner: o comandante James T. Kirk ("T", de Tiberius). Zachary Quinto, o Sylar de Heroes, veste a pele de Spock. Zoe Saldana herda de Nichelle Nichols um dos mais importantes papéis da história da televisão. Uhura, a personagem que agora cabe a Zoe, deu o primeiro beijo inter-racial da história televisiva americana, num episódio de Star Trek, e a actriz Nichelle Nichols chegou a receber um elogio de Martin Luther King, que a descreveu como uma figura-modelo para a comunidade afro-americana.
Um realizador com sucesso televisivo, um elenco renovado, uma história com ligação directa à fundação da saga e as mais recentes tecnologias ao serviço dos efeitos visuais são trunfos a considerar. Resultará?
Nos últimos dias começaram a surgir, pela Internet e jornais, as primeiras opiniões. Com 84% (e já um volume considerável de críticas), é o filme em estreia neste momento com melhor classificação no site agregador Metacritic. E no Rotten Tomatoes atinge agora os 96%. Resta agora passar na última prova: a da bilheteira.

PS. Versão editada de um texto publicado no DN a 7 de Maio