
Nas convulsões da época, o SAAL teve um impacto enorme, de norte a sul — por exemplo, o filme Continuar a Viver (1975), de António da Cunha Telles, aborda o que se passou num aldeia de pescadores, na zona de Lagos. A conquista do direito à habitação excedeu, e muito, o projecto inicial, acabando por se revelar uma pedra de toque, por um lado dos (des)equilíbrios do poder político, por outro lado das relações entre arquitectos, população e poderes centrais e mu-nicipais.
O filme de João Dias cumpre eficazmente uma função de preser-vação da memória que não se encerra no tempo passado, deixando algumas pontas soltas que remetem para o nosso presente. Há nele a virtude de um olhar que tenta contrariar os determinismos e clichés das mais correntes linguagens televisivas, olhar que deixa um desconcertante subtexto irónico — finalmente, terá chegado o tempo de lidarmos com o 25 de Abril para além dos maniqueísmos ideológicos sustentados pelas máquinas partidárias e sistema-ticamente ampliados pela retórica do espaço televisivo.