sexta-feira, abril 17, 2009

Longe de Oz (3/3)

Lançado no ano heróico de 1939, O Feiticeiro de Oz é um dos títulos exemplares da idade de ouro de Hollywood — e também uma das efemérides incontornáveis de 2009. Este texto foi publicado na mais recente edição da revista Egoísta ("Sonho", nº 38), com o título 'Gotas de limão'.

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Tendo em conta o livro, e as diversas sequelas de Oz escritas por Baum, poderá dizer-se que Dorothy tem cerca de 11 anos. As crónicas da época registam que, durante a rodagem, nos estúdios da Metro Goldwyn Mayer, se convencionou que 12 anos seria a idade da personagem. Judy Garland interpretou Dorothy com 16 anos. Tinha já 17 quando o filme se estreou, uma vez que nasceu a 10 de Junho de 1922. Aos 19 anos, a 27 de Julho de 1941, era celebrado o seu casamento com David Rose; divorciaram-se em 1944. A 15 de Junho de 1945, Judy casou-se com Vincente Minnelli; divorciaram-se em 1951. A 8 de Junho de 1952, Judy casou-se com Sidney Luft; divorciaram-se em 1965. A 14 de Novembro de 1965, Judy casou-se com Mark Herron; divorciaram-se em 1967. A 17 de Março de 1969, Judy casou-se com Mickey Deans. Cerca de três meses mais tarde, a 22 de Junho, Judy foi encontrada morta na casa de banho do seu apartamento, em Chelsea, Londres. Completara 47 anos, doze dias antes.
Não há boas maneiras de contar a história de cada um. Judy Garland é uma herança magoada que transportamos e que nunca saberemos aquietar. Não sabemos que fazer da utopia de Oz, dos países imaginados, do ladrar de Toto e dos horizontes do Kansas, onde incluir os sonhos, como confirmá-los ou renegá-los.
Na canção Over the Rainbow, que Judy canta para o muito atento Toto, fala-se dessa terra de sonhos em que os problemas se dissolvem “como gotas de limão” (“Someday I’ll wish upon a star / and wake up where the clouds are far behind me / where troubles melt like lemon drops / away above the chimney tops”). A Metro Goldwyn Mayer chegou a pensar retirar a canção do filme, receando que o público infantil se cansasse com a duração da cena. Estupidamente, pensamos que, se tal tivesse acontecido, O Feiticeiro de Oz não seria a lenda que hoje é. Não haveria efeméride. E Judy podia estar viva.