quarta-feira, abril 22, 2009

Antonioni: passado, presente, futuro

Quando foi feito, em 1981, O Mistério de Oberwald era um filme futurista, porventura de modo involuntariamente anedótico. Que é como quem diz: Michelangelo Antonioni adaptava a peça L'Aigle à Deux Têtes, de Jean Cocteau (que o próprio autor filmara, em 1948), transfigurando o seu registo — passando da tragédia ao melodrama, como sugere Núria Bou — e, mais do que isso, filmando-a em... video.
Provavelmente, com a sofisticada evolução do digital, haverá quem confunda as limitações técnicas do video da altura com deficiências do próprio trabalho formal do filme. Será um equívoco. Importa lembrar que, no começo dos anos 80, o video era maioritariamente visto como uma alternativa secundária e, pior do que isso, inimiga da "pureza" clássica do cinema (isto apesar de, em 1975, com o seu genial Número Dois, ter anunciado a "nova" idade do video). Daí que o gesto de Antonioni implicasse uma espécie de fragilização formal do cinema que constitui, afinal, a primeira e essencial mensagem de O Mistério de Oberwald — renasce, aqui, um cinema-bloco-notas de que o video pode ser um instrumento privilegiado e para o qual o romantismo clássico é a primeira vítima ambígua.
Que filme tão fundamental esteja disponível no nosso mercado de DVD, eis o acontecimento que importa celebrar — além do mais, mesmo em DVD, este é um título que mantém o seu estatuto de raridade.