Lembremos o óbvio: a complexidade estrutural e a riqueza temática de Watchmen, de Allan Moore/Dave Gibbons, tornava qualquer adaptação cinematográfica um projecto "carente" — como transpor tão notável intensidade criativa?
O mínimo que se pode dizer sobre o filme agora estreado — Os Guardiões, de Zack Snyder — é que predomina nele o bom senso de não se querer "substituir" à BD, optando por construir um espectáculo genuinamente cinematográfico cuja raiz está na exploração das virtualidades (no duplo sentido da palavra: potencialidades & e recursos de imagem virtual) do espaço do estúdio. Nesta perspectiva, é inevitável sublinhar que Os Guardiões prolonga a estratégia técnico/narrativa que Snyder já explorara com igual felicidade em 300 (adaptando outra novela gráfica, neste caso de Frank Miller).
Além do mais, esta visão cinematográfica de um passado fictício (1985, com Richard Nixon a cumprir um terceiro mandato como Presidente dos EUA) preserva uma mágoa essencial: a de um tempo de profunda descrença política em que todos, incluindo os super-heróis, se vêem forçados a reavaliar as suas crenças e a discutir as suas certezas. Um passado, enfim, muito presente.