Se mais provas fossem necessárias do conservadorismo da actual imprensa desportiva portuguesa — com uma multiplicação da oferta que, de facto, não corresponde a qualquer diversificação de olhares, discursos e conteúdos —, estas três primeiras páginas de hoje bas-tariam para esclarecer a situação.
Mas há mais. Assistimos também aqui à manifestação plena do valor descartável que é atribuído aos ídolos que essa mesma imprensa se esforça por promover. Subitamente, Cristiano Ronaldo, o "melhor do mundo", celebrado por campanhas e mais campanhas (e até mesmo por petições online), é reduzido à condição patética de símbolo de todos os males do futebol português. Para além do gratuito de tal asserção — a qualidade de jogo da selecção tem estado a decair, me-todicamente, há vários anos —, há, aqui, uma injustiça desportiva que, em última instância, prejudica o próprio Ronaldo: é até bem possível que os gestores da sua imagem publicitária estejam, muito compreensivelmente, preocupados com esta cruel inversão do seu valor iconográfico.
Enfim, não deixa de ser curioso que os protagonistas que, de facto, tomam decisões e gerem os destinos do futebol português — desde os governantes da área desportiva até ao presidente da Federação Portuguesa de Futebol — estejam sempre ausentes destes funerais de coisa nenhuma... Isto para além de não se enfrentar o mais básico, quer dizer, o próprio futebol: afinal de contas, quem alimentou a ilusão de que Suécia, Dinamarca ou Hungria eram selecções banais? Quem celebrou a primeira (e única) vitória sobre Malta como se isso fizesse da selecção portuguesa a melhor do mundo?