Antes da noção de uma música americana começar a ganhar forma no início do século XX, muitos dos compoistores locais (entre os quais muitos europeus emigrados) mais não revelavam que projecções, a um oceano de distância, de acontecimentos musicais ou linguagens do Velho Continente. Veja-se o caso dos dois concertos que vemos reunidos neste novo disco, um dos mais aplaudidos nestes primeiros meses de 2009. Aqui de juntam duas grandes obras para violoncelo de finais do século XIX: o Concerto para Violoncelo em si menor Op 104, de Antonin Dvorák e o Concerto para Violoncelo Nº 2 em mi menor Op 30, de Victor Herbert, o segundo tendo influenciado orquestração da composição do primeiro. Comecemos por este último. Herbert (1859-1924), irlandês, tinha já trabalhado em orquestras alemãs antes de se fixar em Nova Iorque, em 1886. Ensinou no Conservatório, dirigiu orquestras e ganhou mais tarde notoriedade ao escrever para o emergente cinema e para o palco, tendo composto 42 operetas e peças para as Ziegfeld Follies. O seu segundo concerto, estreado em 1894, usa muitas vezes a melodia quase como numa canção e o seu final sugere os ambientes de uma comédia musical, mas na essência mostra-se ainda muito próximo dos modelos do romantismo europeu. Esteve longe de ser um sucesso, mas surge aqui emparelhado com o concerto de Dvorák, que o escutou na época e se interessou por opções na orquestração de Herbert, de quem foi amigo. O Concerto que o checo Dvorák (1841-1904) compôs ainda esse ano foi a sétima e última obra que assinou durante a sua estada de três anos em Nova Iorque, mas reflecte sobretudo ambientes e memórias europeias. O emparelhar dos dois concertos é uma opção historica e musicalmente interessante por parte do verdadeiro protagonista deste disco, o violoncelista Gautier Capuçon (irmão do violinista Ranaud Capuçon). Aos 27 anos assina aqui um disco que poderá tornar-se uma peça de referência na sua discografia, em gravação com a Orquestra Sinfónica da Rádio da Frankfurt, dirigida por Paavo Järvi.
Outras edições:
Meses depois de um primeiro disco, eis que chega o segundo volume da obra sinfónica de Luis de Freitas Branco (1890-1955) dirigida por Álvaro Cassuto, à frente da RTE National Symphony Orchestra, em edições pela Naxos. A Sinfonia Nº 2, de 1926/27 é a peça central de um alinhamento que junta ainda Depois de Um Poema de Guerra Junqueiro (1909) e Paraísos Artificiais (1910). Nestas duas peças vemos sinais de busca e gosto pela experiência num ainda jovem Freitas Branco, o segundo dos quais revelando o que parece uma curiosidade pelo trabalho dos impressionistas franceses. A Sinfonia Nº 2 mostra, por sua vez, marcas que cruzam a cultura musical do compositor com factos da sua vida, nomeadamente o facto da sua irmã mais velha, a quem a obra é dedicada, se ter tornado então uma carmelita, num mosteiro em Espanha. Ecos de canto gregoriano sentem-se no primeiro e quarto andamentos, lançando reflexões de um homem que, como explica o maestro no texto do booklet, “pela sua natureza e pensamento não seguiu os principios da fé católica em que foi educado”.
É certamente uma das grandes gravações de ópera do momento, registada em estúdio (como poucas vezes se vai já fazendo por estes dias). Duas grandes vozes da nova geração, Anna Netrebko e Elina Garanka são respectivamente Julieta e Romeu nesta adaptação por Bellini (via textos italianos), da história de uma amor trágico que Shakespeare imortalizou. I Capuletti e i Montecchi (o título sublinhando a origem italiana do libreto de Felice Romani) nasceu em 1730 de uma encomenda a contra-relógio pelo teatro veneziano La Fenice ao compositor Vincenzo Bellini. Um mês e meio de trabalho e a ópera estava pronta, usando duas mulheres nos papéis principais como consequência do elenco disponível no teatro, não gostando o compositor do tenor (e de longe pensando usar um barítono para o papel do jovem Romeu). A gravação surge via Deutsche Grammophon, dirigida por Fabio Luisi, frente à Sinfónica de Viena e à Wiener Singakademie.
Outras edições:
Meses depois de um primeiro disco, eis que chega o segundo volume da obra sinfónica de Luis de Freitas Branco (1890-1955) dirigida por Álvaro Cassuto, à frente da RTE National Symphony Orchestra, em edições pela Naxos. A Sinfonia Nº 2, de 1926/27 é a peça central de um alinhamento que junta ainda Depois de Um Poema de Guerra Junqueiro (1909) e Paraísos Artificiais (1910). Nestas duas peças vemos sinais de busca e gosto pela experiência num ainda jovem Freitas Branco, o segundo dos quais revelando o que parece uma curiosidade pelo trabalho dos impressionistas franceses. A Sinfonia Nº 2 mostra, por sua vez, marcas que cruzam a cultura musical do compositor com factos da sua vida, nomeadamente o facto da sua irmã mais velha, a quem a obra é dedicada, se ter tornado então uma carmelita, num mosteiro em Espanha. Ecos de canto gregoriano sentem-se no primeiro e quarto andamentos, lançando reflexões de um homem que, como explica o maestro no texto do booklet, “pela sua natureza e pensamento não seguiu os principios da fé católica em que foi educado”.
É certamente uma das grandes gravações de ópera do momento, registada em estúdio (como poucas vezes se vai já fazendo por estes dias). Duas grandes vozes da nova geração, Anna Netrebko e Elina Garanka são respectivamente Julieta e Romeu nesta adaptação por Bellini (via textos italianos), da história de uma amor trágico que Shakespeare imortalizou. I Capuletti e i Montecchi (o título sublinhando a origem italiana do libreto de Felice Romani) nasceu em 1730 de uma encomenda a contra-relógio pelo teatro veneziano La Fenice ao compositor Vincenzo Bellini. Um mês e meio de trabalho e a ópera estava pronta, usando duas mulheres nos papéis principais como consequência do elenco disponível no teatro, não gostando o compositor do tenor (e de longe pensando usar um barítono para o papel do jovem Romeu). A gravação surge via Deutsche Grammophon, dirigida por Fabio Luisi, frente à Sinfónica de Viena e à Wiener Singakademie.