domingo, março 01, 2009

A infância dos blogs (1)

JAMES WHISTLER Ao Piano (1858-59)

A blogosfera não é uma Natureza. É mesmo uma das mais prodi-giosas invenções tecnológicas do ser humano no século XXI. Em todo o caso, um dos dramas da blogosfera possui, por assim dizer, uma dimensão natural. Ou seja: existe há muitíssimo pouco tempo, mas adquiriu uma extensão imensa sem ter passado por um verdadeiro processo de maturação. Mais do que isso: o seu infantilismo decorre não apenas da sua tenra idade, mas do facto de muitos dos seus protagonistas (leia-se: autores de blogs) se comportarem como crianças sem qualquer tipo de educação. No limite, por vezes, são mesmo crianças.
É óbvio que, face às especificidades dos actuais meios electrónicos — e, em particular, no espaço horizontal da World Wide Web — a discussão unilateral do direito de acesso e expressão na Net não conduz a nada. Em última instância, pode mesmo favorecer uma oposição estúpida, porque drasticamente simplificadora, entre "per-missão" e "interdição".
Por isso mesmo, importa dizer algo que não será muito popular, mas que as convulsões da blogosfera exigem que seja formulado, ana-lisado e pensado: o facto de se defender uma blogosfera (ou, mais genericamente, uma Net) sem censura não exclui, bem pelo contrário, impõe a defesa de uma crescente responsabilização dos seus utilizadores.
O primeiro e terrível efeito da desresponsabilização que triunfou na blogosfera é a desqualificação dos mais básicos valores jornalís-ticos. Mais concretamente, as formas de fulanização da blogosfera adquiriram componentes de difamação e insulto que nenhum jornal minimamente sério aceitaria publicar nas suas páginas.
E é uma demagogia pura — em boa verdade, é uma demagogia antidemocrática — favorecer a ideia de que poder dizer "tudo" na blogosfera é, em si mesmo, um valor positivo e libertador. Dis-pensemos, por agora, a discussão filosófica dessa ilusória "to-talidade". De positivo, não tem nada porque reduz o espaço social a uma arena de agressividade sem pensamento(s). Quanto ao possível carácter libertador, ele anula-se a partir do momento em que exclui qualquer contraponto de ideias, sensibilidades ou argumentações.
Daí a pergunta trágica: será que a blogosfera tem meios e condições para anular as suas próprias monstruosidades?