
Assombramento dos tempos que vivemos: será que a televisão toda poderosa vai “normalizar” o cinema, a ponto de o esvaziar de todas as suas especificidades, reduzindo-o a um monótono departamento de telefilmes & afins? A acreditar na mensagem que nos deixou a cerimónia dos Oscars, domingo em Los Angeles (madrugada de segunda-feira na Europa), a resposta é a melhor que podíamos esperar: não só o cinema tem uma identidade própria que importa reafirmar, como a Academia de Hollywood apresentou um espectáculo com as “surpresas” prometidas, celebrando as pessoas que fazem os filmes e também o imenso património que inspira a sua actividade.

Não que os actores tivessem desaparecido. Longe disso. Só que a mera ostentação da tecnologia é uma ideologia do espectáculo (e, no fundo, contra o espectáculo) que favorece a menorização da sua dimensão humana. E, até prova em contrário, as emoções que este ano passaram por nomes como Sean Penn ou Kate Winslet não estão ao alcance dos famigerados “efeitos especiais”.
Resta dizer que o símbolo individual desta celebração dos actores foi Hugh Jackman [na foto, com Beyoncé]. A sua apresentação foi desde o modelo do clássico host, sóbrio e comunicativo, até à versatilidade de uma estrela de musical (incluindo na sua dimensão teatral). Mais ainda: o seu diálogo com os actores, bem visíveis nas filas da frente do Kodak Theater, veio mostrar que pode haver um luminoso narcisismo que constitui uma componente vital deste universo. Os actores gostam. E nós agradecemos.