domingo, março 22, 2009

Encontro com Clint Eastwood (2/2)

Este é o resultado de uma breve conversa com Clint Eastwood, a propósito de Gran Torino: aconteceu em Paris, no dia 24 de Fevereiro — o texto foi publicado no Diário de Notícias, a 12 de Março.

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Aceita que se diga que o seu filme é um testemunho sobre o actual “melting pot” americano?
Sim. Mas é também sobre o reconhecimento de que é possível aprender coisas novas em todas as idades: é sempre possível aprendermos a tolerância em relação aos outros. O que, em todo o caso, não impede a minha personagem de estar em conflito com a sua igreja e também com a sua família.

Será que podemos encarar o filme também como uma visão sobre a religião?
Kowalski provoca o padre, mas o certo é que as coisas vão mudando e ele acaba por ir à confissão. O interessante é que tudo isso abre novas possibilidades de vida. Na verdade, não tenho de me reconhecer em nada do que é contado, são apenas coisas que gosto de representar. Aliás, por vezes, é muito mais divertido representar pessoas com as quais nada temos em comum.

O elenco de Gran Torino é quase todo composto por amadores. Que diferenças há entre trabalhar com actores sem experiência profissional e alguém, por exemplo, como Angelina Jolie?
Bem, é um prazer trabalhar com Angelina Jolie... No caso de Gran Torino, comecei por pensar em actores profissionais de origem asiática. Até que senti que valia a pena procurar no interior da própria comunidade “hmong”. Deparámos com muita gente disponível, ansiosa por entrar no filme. E acabei por encontrar os dois jovens (Bee Vang e Ahney Her) que, de facto, tinham um “não sei quê” de especial.

Apesar do seu sucesso, antes do mais nos EUA, não se pode dizer que Gran Torino seja um típico filme de Hollywood. Como realizador, e também como espectador, qual é a sua relação com os filmes de acção, dominados por efeitos especiais?
Os efeitos especiais são magníficos. Os efeitos visuais, em particular, evoluíram imenso e eu próprio os tenho usado, por exemplo em As Bandeiras dos Nossos Pais. Mas, para mim, é a história que conta. Não me interessa fazer esses filmes de efeitos especiais como uma espécie de ginástica. Gosto das histórias. Cresci a ver filmes com histórias. Por exemplo, no caso de A Troca tive que usar alguns efeitos para recriar Los Angeles em 1928, mas era a história que valia. Cada filme tem que ter algo que seja apelativo, uma história que valha a pena contar.