segunda-feira, março 23, 2009

"A Corte do Norte": romantismo e ironia

Os vícios televisivos levam-nos muitas as vezes a olhar para as chamadas reconstituições históricas como se fossem uma espécie de exercício de "coincidências": se os vestidos e os cabelos, eventual-mente os sotaques, estiverem certos (?), então é muito provável que digamos que... foi mesmo assim!
Claro não é assim, nunca foi assim — uma representação é uma representação é uma representação (mesmo quando é a uma representação de uma rosa segundo Gertrud Stein). No filme A Corte do Norte, segundo o romance de Agustina Bessa-Luís, João Botelho filma os ecos do século XIX português como uma paisagem dúplice: uma câmara de eco, austera e romântica, da nossa muito íntima procura de identidade e também a ironia, porventura o sarcasmo, das suas ilusões e desilusões. Repartindo-se por 5-personagens-5, Ana Moreira é o símbolo exemplar do labor do filme: uma actriz que é uma personagem porque é uma actriz... Jogo de espelhos, expe-riência de delicada revelação formal, anti-televisão.