quarta-feira, fevereiro 04, 2009

A morte lenta dos Oscars

Quanto mais não seja para tentar contrariar a quebra de audiências televisivas dos últimos anos, os produtores da cerimónia dos Oscars prometeram muitas "surpresas" para o espectáculo de 22 de Fevereiro, deixando a sugestão de que isso poderá passar, em parte, pela versatilidade de palco do apresentador, Hugh Jackman.
Esperemos que sim. E esperemos para ver. Em todo o caso, importa relembrar algumas razões de fundo para o efeito de banalização que está a matar, lentamente, a identidade dos Oscars.
Desde logo a aceleração que passou a ser lei no mercado. Com os tempos de difusão encurtados e a criação das célebres "janelas" (estreia nas salas, edição em DVD, difusão no cabo, etc.), gerou-se uma regra não escrita que faz com que os Oscars funcionem, na prática, como mecanismo suplementar de promoção dos filmes estreados no derradeiro trimestre de cada ano — e quase só desses (tanto mais que as estreias do resto do ano passaram a estar em minoria nas nomeações).
Depois, temos a proliferação de prémios que antecedem os Oscars (Globos de Ouros, Guilds, etc.). Claro que todos eles já existem há muitos anos. O certo é que a sua crescente mediatização impôs um efeito "competitivo" de enorme banalidade — em vez de se observar a multiplicidade da própria indústria, seus contrastes e contradições, quase tudo se esgota numa infantil "bolsa de apostas".
Enfim, o efeito (suplementar do anterior) que resulta do predomínio de um sistema jornalístico que tem a "antecipação" como valor fundamental. Um pouco como quando se "antecipa" um evento ao vivo (um concerto, por exemplo) e se escrevem páginas e páginas sobre aquilo que poderá ser... e apenas algumas breves linhas sobre o que realmente foi.
Dito isto, convém também dizer que a temporada de prémios 2008/09 envolve muitos títulos interessantes, alguns mesmo fulgurantes — como é óbvio, não se trata de discutir se os filmes são "bons" ou "maus", ou se vão ganhar os "meus" ou os "teus" preferidos. Trata-se, isso sim, de lamentar a perda de especificidade de um acontecimento que, para todos os efeitos, continua a envolver os mais populares prémios de cinema do mundo.