John Adams, cuja afirmação como compositor surgiu directamente associada a sinais de primeira descendência da geração que definiu o minimalismo norte-americano (La Monte Young, Terry Riley, Philip Glass e Steve Reich), viu entretanto a sua obra ser animada pela curiosidade da experiência de novos caminhos e ideias. Sem a necessidade de ruptura com as suas “origens”, a música foi juntando novos rumos aos velhos caminhos. E frequentemente, como na sua mais recente ópera, A Flowering Tree, ecos da medula minimalista que se mantém (embora sem a mesma visibilidade) na sua personalidade cruzam-se com outras rotas e destinos. Esta é a sua sexta obra criada para o palco, sucessora de Nixon In China (1987), The Dearh Of Klinghoffer (1991), I Was Looking At The Ceiling And Then I Saw The Sky (1995), El Niño (2000, na verdade uma oratória e não uma ópera) e Doctor Atomic (2005). A primeira “novidade” que a obra apresenta mora na narrativa que lhe serve de ponto de partida. Distante das histórias do mundo do século XX, muitas delas empregando figuras reais e tramas políticas, A Floweing Tree nasce de um conto tradicional indiano, que relata a história de uma jovem que tem o dom de se transformar numa árvore florida, do príncipe que com ela se casa e da irmã deste que tenta destruír a felicidade do casal. Criada sob algumas analogias com A Flauta Mágica de Mozart (na verdade a ópera foi encomendada para encerrar um festival mozartiano), a música revela, além de marcas habituais em Adams, algumas afinidades wagnerianas (sobretudo apontadas à tetralogia do Anel). Estreada em Viena (Áustria) em 2006, a ópera em dois actos volta a reunir John Adams a Peter Sellars, que assina o libreto. Em disco, um CD duplo em edição pela Nonesuch, A Flowering Treee surge numa gravação dirigida pelo próprio compositor, à frente da London Symphony Orchestra, contando com as vozes de Jessica Rivera, Russel Thomas e Eric Owens.
Ao mesmo tempo que chega aos escaparates a edição de A Flowering Tree é lançado entre nós uma compilação (também em dois CD) que serve de companhia áudio ao livro de memórias que John Adams publicou em finais de 2008. Tem por título Hallelujah Jukebox (A Nonesuch Retrospective), e, sem a ambição antológica da caixa de dez CD Earbox, recolhe excertos de algumas obras que gravou para a Nonesuch desde os anos 80, deste os basilares Harmonielehre, Harmonium, Shaker Loops ou Nixon In China aos mais recentes The Dharma at Big Sur ou mesmo o novo A Flowering Tree. No livro, John Adams junta memórias de vida a reflexões sobre o processo criativo que conduziu à escrita de algumas das mais marcantes obras da música americana dos últimos 30 anos. Nascido em 1947 em Worcester (Massachusetts), evoca recordações das big bands que ouviu na juventude, da sala de bailes do seu avô, assim como histórias do seu pai, um clarinetista e da sua mãe, que foi cantora de jazz. A sua obra musical reflecte frequentemente o ponto de vista político de um espírito liberal. A sua mãe trabalhou sempre como voluntária nas campanhas para as primárias do Partido Democrata no seu estado. E num dos textos do seu site oficial, recorda como apertou a mão a John Kennedy antes deste vencer a primárias no estado onde então vivia. Experiências e ideias que marcam uma vivência que se materializa na música, numa carreira que soma já perto de 40 anos de actividade.