Como nasceu o músico em si?
Foi um processo gradual. Nos anos 90 estava a fazer muitas coisas. Estava a tocar em bandas. E trabalhava numa livraria... Estava ainda à procura de uma voz própria. Estava muito aberto a colaborações... Gradualmente encontrei essa voz a fazer música para teatro. Fui abordado em meados dos anos 90 para fazer música para uma companhia de teatro. E foi aí que comecei a experimentar os processos e os sons que utilizo hoje. É uma síntese de tudo aquilo a que fui exposto: as electrónicas, a música clássica, o krautrock, o indie rock... Fiz trabalho para teatro durante muitos anos. O meu primeiro disco [Englabörn, reeditado em 2007 pela 4AD] tinha algumas faixas que provinham de trabalhos para o teatro. A dada altura também fiz música para uma instalação... O que faço cresceu de todas essas experiências.
Na sua música não parece haver fronteiras entre o “popular” e o “clássico”... Mas há quem ainda as tenha em conta...
O mundo da composição musical está mais aberto. Mas as fronteiras de facto ainda existem...
Nos artistas ou no público?
No público. Os artistas são mais flexíveis... Os artistas têm um pensamento criativo mais híbrido. Há problemas também na forma como são feitos os programas dos concertos.
Sente-se marginalizado pelo circuito das salas de concerto habitualmente mais ligadas à música clássica?
Não me sinto um outsider porque nem tentei sequer juntar-me a nada. Criei os meus espaços. A minha música tem conseguido encontrar um público. Às vezes toco em salas mais ligadas ao rock, outras toco em centros de arte ou galerias. Mas o público está lá. E é isso que me preocupa. A política cultural não é um assunto que me interesse. Basicamente o meu objectivo é o de criar a música que escuto na cabeça. E se não houver uma categoria onde encaixe, esse não é um problema meu. É um problema para os programadores.
Foi para si uma revelação ouvir uma orquestra a tocar a sua música?
É incrível ouvir a nossa música ser tocada por um grupo grande de músicos. Uma das coisas mais interessantes para quem faz música é o chegar daquele momento em que a vemos a tomar vida, depois dos meses numa forma abstracta.
Sente que, através da ligação à 4AD, a sua música foi mais longe?
Conhecia a editora há muito tempo, conhecia os discos. E era uma editora com a qual sempre senti que gostaria de trabalhar. É importante trabalhar com as pessoas com quem nos entendemos, que nos percebem. São fãs de música na 4AD. É bom trabalhar com eles. E sinto que tenho mais exposição hoje, que quando lançava discos noutras editoras. Isso tem também a ver com o tipo de distribuição que a editora tem.
Ainda é membro do Apparat Organ Quartet?
A banda ainda existe. Estamos a trabalhar num disco novo. Já estamos a trabalhar nele há algum tempo, é verdade...
Como separa as águas entre a sua música e a da banda?
Para mim há semelhanças entre ambos os trabalhos. Gosto de saltar de um projecto para outro. Não gosto de estar sempre fixado numa mesma coisa por muito tempo. Daria em louco se estivesse a fazer apenas a minha música a toda a hora . Mas estou sempre envolvido noutros projectos. E uns acabam sempre por ajudar os outros.
(conclui amanhã)