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Foi
há cerca de dois anos que Bernarda Fink esteve no Grande Auditório da Fundação Gulbenkian. A mezzo-soprano argentina, de ascendência eslovena, regressou agora (dia 17, 19h00) par um belíssimo
concerto em que a delicadeza do
lied de Franz Schubert se combinou com a dimensão espiritual das
Canções Bíblicas de Antonín Dvorák, também representado através das suas
Melodias Ciganas. Roger Vignoles, no piano, foi o acompanhante rigoroso e subtil, tratando cada peça com a mesma contenção de Fink — trata-se, afinal, de expor a música como uma matéria de descoberta, por assim dizer
revelada através do metódico exercício do canto. Para compreendermos a densidade da escrita de Schubert e também as ousadias das composições de Dvorák, os textos de Luís Raimundo no
programa de sala são um exemplo modelar de como é possível abordar a complexidade musical sem esmagar as suas intensidades específicas através de "descrições" meramente tecnicistas.