A Unidade voltou a um canal do cabo: oportunidade para redescobrir uma subtil visão do imaginário político-social dos EUA — este texto foi publicado no Diário de Notícias (6 de Fevereiro), com o título 'Reencontro com Mamet'.
No primeiro episódio da quarta temporada da magnífica série A Unidade (Fox), há um golpe que ameaça as mais altas instâncias do poder político dos EUA: o Vice-Presidente é assassinado e o Presidente eleito, um latino-americano, consegue fugir quando a sua comitiva é violentamente atacada. Como é óbvio, não vale a pena cairmos nos maiores simplismos do “efeito Obama” e dizer que se trata de uma história concebida para os tempos da nova presidência dos EUA. Aliás, convém recordar que este episódio teve a sua primeira difusão, na CBS, a 28 de Setembro de 2008.
Acontece que este “síndroma da presidência” tem atingido as mais diversas formas de ficção, sendo a encenação da figura do Presidente dos EUA uma das suas pedras de toque. Por exemplo, na derradeira temporada da série 24, também recentemente estreada entre nós (RTP2), o país tem uma mulher na presidência.
David Mamet, criador de A Unidade e também realizador de alguns dos seus melhores episódios (incluindo este citado), continua a ser um dos mais geniais retratistas do imaginário político-social do seu país. Não se trata tanto de fazer história em sentido directo ou, se quise-rem, “factual”, mas sim de colocar em cena um sentimento difuso de inquietação e perplexidade através do qual o país experimenta as suas transformações mais fundas.
Este início da quarta temporada reforça uma componente que já se revelava decisiva nas anteriores: o papel das personagens femininas (as mulheres dos militares), além de estar muito longe das convenções das tradicionais “ficções de guerra”, adquire uma função central no repensar das formas, também elas tradicionais, das relações familiares ou políticas. Oscilamos sempre entre a crueza realista e as nuances melodramáticas.
Encontramos aqui uma visão subtil que mantém inevitáveis pontos de contacto com os filmes de Mamet (lembremos o notável Spartan/O Rapto, com Val Kilmer) e também com muitas componentes dos seus textos teatrais. Na sua obra multifacetada, Mamet procura os sinais de uma América visceral, interior, sempre enredada nos seus valores, medos e fantasmas.
No primeiro episódio da quarta temporada da magnífica série A Unidade (Fox), há um golpe que ameaça as mais altas instâncias do poder político dos EUA: o Vice-Presidente é assassinado e o Presidente eleito, um latino-americano, consegue fugir quando a sua comitiva é violentamente atacada. Como é óbvio, não vale a pena cairmos nos maiores simplismos do “efeito Obama” e dizer que se trata de uma história concebida para os tempos da nova presidência dos EUA. Aliás, convém recordar que este episódio teve a sua primeira difusão, na CBS, a 28 de Setembro de 2008.
Acontece que este “síndroma da presidência” tem atingido as mais diversas formas de ficção, sendo a encenação da figura do Presidente dos EUA uma das suas pedras de toque. Por exemplo, na derradeira temporada da série 24, também recentemente estreada entre nós (RTP2), o país tem uma mulher na presidência.
David Mamet, criador de A Unidade e também realizador de alguns dos seus melhores episódios (incluindo este citado), continua a ser um dos mais geniais retratistas do imaginário político-social do seu país. Não se trata tanto de fazer história em sentido directo ou, se quise-rem, “factual”, mas sim de colocar em cena um sentimento difuso de inquietação e perplexidade através do qual o país experimenta as suas transformações mais fundas.
Este início da quarta temporada reforça uma componente que já se revelava decisiva nas anteriores: o papel das personagens femininas (as mulheres dos militares), além de estar muito longe das convenções das tradicionais “ficções de guerra”, adquire uma função central no repensar das formas, também elas tradicionais, das relações familiares ou políticas. Oscilamos sempre entre a crueza realista e as nuances melodramáticas.
Encontramos aqui uma visão subtil que mantém inevitáveis pontos de contacto com os filmes de Mamet (lembremos o notável Spartan/O Rapto, com Val Kilmer) e também com muitas componentes dos seus textos teatrais. Na sua obra multifacetada, Mamet procura os sinais de uma América visceral, interior, sempre enredada nos seus valores, medos e fantasmas.