
A meio-soprano ar-gentina Bernarda Fink veio à Fun-dação Gulbenkian (
Grande Auditório, dia 23, 19h00) pa-ra nos lembrar que as memórias de Ástor Piazzola (1921-1992) não bastam para dar conta da diver-sidade da música do seu país. Não que ela tenha resistido a tais memórias — en-cerrou mesmo o seu concerto com
Tres (belissimas)
Milongas de Piazzola. Em todo o caso, as canções de Carlos Guastavino (1912-2000) e Alberto Ginastera (1916-1983) permitiram descobrir ou redescobrir universos em que a reconversão das heranças tradicionais vai a par de desvios e clivagens absolutamente fascinantes. Vale a pena recordar, a esse propósito, que Ginastera está directamente inscrito na história do
prog rock dos anos 60/70, já que os
Emerson, Lake & Palmer gravaram uma adaptação de um andamento do seu Concerto para Piano nº1, com o título
Toccata, incluída no álbum
Brain Salad Surgery (1973).
O concerto de Bernarda Fink foi ainda a revelação (creio que uma estreia absoluta em Portugal) do magnífico
Octeto Ibérico de Violoncelos, dirigido por Elías Arizcuren. O grupo interpretou algumas peças instrumentais, incluindo a sublime
Pampeana nº 2, de Ginastera — momentos inesquecíveis de um concerto mediaticamente "secundário", mas tão luminoso quanto empolgante.