Clássicos do século XX - 10
'Sinfonia Antartica', de Vaughan Williams
(1952)
O cinema representou um importante espaço de invenção musical ao longo de todo o século XX. Muitos compositores foram ocasional ou regularmente desafiados a compor a música para acompanhar narrativas no grande ecrã. Em várias ocasiões (como ainda recentemente aqui evocámos uma vida posterior ao cinema com a música que Prokofiev criou para Alexandre Nevsky, de Eisenstein), o trabalho para um filme não se esgotou na sua banda sonora, na verdade representando ponto de partida para uma aventura ainda maior. Uma situação semelhante aconteceu com Ralph Vaughan Williams (1872-1958). Em 1947 foi convidado a criar a banda sonora para o filme Scott Of The Antarctic, de Charles Frend, sobre a trágica missão ao pólo Sul de Robert Falcon Scott, em 1910. O tema inspirou-o de tal forma, que acabou por criar, a partir desta música, a sua 7ª sinfonia, a que chamou Sinfonia Antartica.
Depois de apresentado o filme, Vaughan Williams decidiu repensar a partitura que tinha criado na forma de uma sinfonia em cinco andamentos, todavia procurando evitar soluções convencionais. Concluída em 1952, estreada em Manchester em 1953, a Sinfonia Antartica ocupa um lugar de relevo na obra sinfónica do compositor que ajudou a definir uma identidade “inglesa” na primeira metade do século XX. A sua música cruza o novo com a tradição e reflecte frequentemente um interesse grande do compositor pela música folk. Aluno de Ravel, mostrou nas suas primeiras obras marcas de influência do professor. Contudo, este acabaria por afirmar que, de todos os seus antigos alunos, Vaughan Williams seria o único que não acabou a reescrever a sua música.
A Sinfonia Antartica é uma obra sinfónica coral, na qual o compositor inglês procurou encontrar equivalentes musicais às sensações de frio intenso, desolação, de ventos colossais, de rochas cobertas de gelo, que foram cenário dessa fracassada tentativa de atingir o pólo Sul, e que terminou com a morte do explorador e dos quatro aventureiros (na foto) que o acompanharam. O ambiente traduz de certa forma a curiosidade, muito alimentada entre ingleses no século XIX e início do século XX, pelas grandes explorações geográficas que então deram a conhecer o mundo. A sinfonia, apesar desta relação com o concreto, serve ainda de base a uma reflexão do compositor sobre a condição humana.
Imagens do filme de 1948 Scott Of The Antartic, que conta com banda sonora assinada por Raplh Vaughan Williams. Esta sequência mostra os créditos de abertura (entre os quais vemos uma referência ao compositor), aos quais se seguem as primeiras cenas desta longa-metragem.