sábado, janeiro 10, 2009

Quando Tintim foi (mesmo) repórter

Mais um aniversário. Mas este com mais 60 velas que as de New York de Lou Reed. Na verdade, são os 80 anos que separam este dia daquele em que Tintim conheceu a sua primeira publicação. 10 de Janeiro de 1929. O jovem desenhador Georges Remi, que artisticamente acabou mundialmente conhecido como Hergé, publicava a primeira tira das aventuras de um (também ele jovem) repórter, no suplemento Le Petit Vingtième, do jornal conservador belga Le XXème Siècle... Chamou-lhe Tintin e, numa primeira missão, enviou-o à Rússia soviética. Tinham passado 12 anos sobre a revolução, e o mundo dos “sovietes” motivava discussões. O jornal, claro nas suas convicções políticas acolheu a ideia com entusiasmo. Como base de trabalho, Hergé (que mais tarde ficaria conhecido pela forma como obsessivamente preparava cada aventura, procurando o maior realismo possível no retrato de objectos e lugares), tomou um livro: Moscou Sans Voiles, de um ex-cônsul que vivera na Rússia durante nove anos e relatava vícios do regime...

Nesta sua primeira aventura, vemos Tintim pela primeira (e única) vez a escrever uma reportagem. Será, daqui em diante, repórter apenas no nome. E na curiosidade. A aventura, que anos depois circulou em edição pirata, até que Hergé aceitou a sua reedição, está hoje em dia disponível como Tintim No País dos Sovietes. É uma história com tempero de acção permanente, com um tom de inverosimilhança que seria refreado em aventuras seguintes. Não deixa de ser contudo interessante a expressão de um interesse do desenhador pela velocidade, evidente na forma de retratar sequências de perseguição, lançando ideias que fariam história na BD. O retrato que o livro que faz do “país dos sovietes” é sombrio, sugerindo cenários de prepotência e de hipocrisia. A edição em livro replica as pranchas originais, apenas a linha negra. Esta foi, na verdade, a única aventura de Tintim que Hergé nunca coloriu. A primeira de uma série que faria de Tintim uma das mais importantes criações da história da BD e um dos ícones da cultura popular do século XX.