Que significa discutir política na televisão? Ou melhor: até que ponto o confronto democrático pode (ou deve) ser transferido dos espaços parlamentares para a televisão? — este texto foi publicado no Diário de Notícias (16 de Janeiro), com o título 'Debater ou não debater'.
Há dias, os meios políticos foram agitados por um episódio em que a televisão surgiu, pelo menos implicitamente, como parte interessada. Assim, Manuela Ferreira Leite, líder do PSD, desafiou o primeiro-ministro para um debate público. De forma mais ou menos declarada, o convite envolvia uma ideia específica de combate político. A saber: tendo em conta a gravidade da situação do país, tratava-se de eleger o espaço televisivo como palco ideal para confrontar projectos e dirimir argumentos. O episódio foi encerrado com a recusa de José Sócrates (comunicada por Augusto Santos Silva, ministro dos Assuntos Parlamentares), considerando que a Assembleia da República é o lugar natural, aliás institucional, para esse tipo de confrontos.
Por uma vez, surgiu da classe política uma ideia simples e consistente sobre a inserção da televisão no espaço público. Mais do que isso: a recusa de José Sócrates deixou um pequeno, mas importante, grão de areia nessa ideologia populista segundo a qual a televisão funciona como um oráculo imaculado da vida colectiva, em geral, e do combate político, em particular.
O populismo reinante favorece uma lógica pitoresca e fulanizada: “Se não nos entendemos, vamos para a televisão e aí... tudo se tornará claro!” A resistência do primeiro-ministro teve o mérito de lembrar um princípio básico da máquina democrática: com mais ou menos defeitos e desequilíbrios, as instituições democráticas (não a televisão) formam o cerne vital da vida política.
A ideia de que a televisão existe como uma espécie de coutada protegida onde, subitamente, tudo se torna claro e equidistante é uma ideia que, além do mais, ignora o trabalho televisivo como sistema de linguagens. Chegou mesmo o tempo de perguntar se o acto de juntar duas, três ou cinquenta pessoas num estúdio com luzes intensas e cenários de cores berrantes pode ser interpretado como uma garantia automática de inteligência argumentativa. Bem sei que cada caso é um caso e todas as generalizações são abusivas. Mas a atitude de José Sócrates mostra que os políticos não têm que se comportar como marionetas do circo mediático.
Há dias, os meios políticos foram agitados por um episódio em que a televisão surgiu, pelo menos implicitamente, como parte interessada. Assim, Manuela Ferreira Leite, líder do PSD, desafiou o primeiro-ministro para um debate público. De forma mais ou menos declarada, o convite envolvia uma ideia específica de combate político. A saber: tendo em conta a gravidade da situação do país, tratava-se de eleger o espaço televisivo como palco ideal para confrontar projectos e dirimir argumentos. O episódio foi encerrado com a recusa de José Sócrates (comunicada por Augusto Santos Silva, ministro dos Assuntos Parlamentares), considerando que a Assembleia da República é o lugar natural, aliás institucional, para esse tipo de confrontos.
Por uma vez, surgiu da classe política uma ideia simples e consistente sobre a inserção da televisão no espaço público. Mais do que isso: a recusa de José Sócrates deixou um pequeno, mas importante, grão de areia nessa ideologia populista segundo a qual a televisão funciona como um oráculo imaculado da vida colectiva, em geral, e do combate político, em particular.
O populismo reinante favorece uma lógica pitoresca e fulanizada: “Se não nos entendemos, vamos para a televisão e aí... tudo se tornará claro!” A resistência do primeiro-ministro teve o mérito de lembrar um princípio básico da máquina democrática: com mais ou menos defeitos e desequilíbrios, as instituições democráticas (não a televisão) formam o cerne vital da vida política.
A ideia de que a televisão existe como uma espécie de coutada protegida onde, subitamente, tudo se torna claro e equidistante é uma ideia que, além do mais, ignora o trabalho televisivo como sistema de linguagens. Chegou mesmo o tempo de perguntar se o acto de juntar duas, três ou cinquenta pessoas num estúdio com luzes intensas e cenários de cores berrantes pode ser interpretado como uma garantia automática de inteligência argumentativa. Bem sei que cada caso é um caso e todas as generalizações são abusivas. Mas a atitude de José Sócrates mostra que os políticos não têm que se comportar como marionetas do circo mediático.