terça-feira, janeiro 06, 2009

A nova ordem futebolística

É mesmo verdade: nos próximos tempos, a Federação Portuguesa de Futebol e o seu presidente, Gilberto Madaíl, vão ser protagonistas vitais da nossa nova ordem cultural. Cultural sem aspas, entenda-se, porque a cultura não se esgota no preço dos livros ou nos programas que as televisões empurram para as madrugadas.... A instância cultural é, por excelência, o espaço dos valores — como vivemos, como queremos viver. E Gilberto Madaíl e a FPF querem que Portugal viva os próximos anos marcado por um projecto absurdo e megalómano: a organização (partilhada com Espanha) do Mundial de Futebol de 2018.
Pedro Silva Pereira, ministro da Presidência, já tinha considerado que valia a pena avaliar o projecto. Hoje, ficámos a saber, através de Laurentino Dias, secretário de Estado da Juventude e do Desporto, que tudo "está a seguir o caminho normal".
Qual é, então, esta normalidade? A que considera que um país com imensas carências estruturais — desde as necessidades básicas de algumas populações até ao fomento da produção artística —, fortemente atingido por um crise internacional que, como é óbvio, não controlamos... que um país assim pode, normalmente, candidatar-se a um Mundial de Futebol.
Será interessante conhecer como o Governo vai justificar este envolvimento, tanto do ponto de vista económico como simbólico. E também, claro, se por uma vez as oposições têm alguma coisa a dizer, sobretudo alguma coisa que vá para além dos jogos florais de análise dos pontos e das vírgulas de cada frase que José Sócrates profere. Além do mais, vamos ter dez anos para compreender como o futebol passou a ser o poder dominante no nosso imaginário cultural.