Com a performance de Murray Perahia (dia 18, 19h00), o Ciclo de Piano da temporada de música 2008/09 da Fundação Gulbenkian voltou a ter um momento alto, com tanto de discreto como de fulgurante — de facto, ele é um daqueles intérpretes cujo primeiro princípio de acção é a submissão total às determinações da obra; trata-se, depois, de saber transfigurar tais determinações num acontecimento singular do presente.
E não se pode dizer que Perahia tenha escolhido uma colecção de facilidades. Foi assim o programa: Johann Sebastian Bach (Partita Nº 1, em Si bemol maior, BWV 825); Wolfgang Amadeus Mozart (Sonata em Fá maior, K.332); Ludwig van Beethoven (Sonata Nº 23, em Fá menor, op. 57, Appassionata); Johannes Brahms (Variações e Fuga sobre um tema de Händel, op. 24).
Dir-se-ia uma viagem de um século — de meados do séc. XVIII a meados do séc. XIX —, definindo um mapa que, nas sonatas de Mozart e Beethoven, tem o que talvez pudéssemos chamar de paisagens de síntese e reconversão. A Appassionata, de Beethoven, foi, nessa perspectiva, uma serena apoteose dos mais paradoxais estados de alma. Digamos que Perahia é um grande artista do mood (de cada música) — é isso mesmo que ele explica, a propósito de Bach, neste brevíssimo video de uma masterclass realizada em Salt Lake City, em 2007.