A recente entrevista de Mike Huckabee conduzida por Jon Stewart (The Daily Show, 9 de Dezembro) traduziu-se num grande momento de televisão — este texto foi publicado no Diário de Notícias (26 de Dezembro), com o título 'Diálogos políticos'.
Todos os dias vemos (e ouvimos!) a agonia do debate político em Portugal e, em particular, nos espaços televisivos. Por um lado, os lapsos dos intervenientes passaram a contar tanto ou mais do que a exposição das suas ideias. Porquê? Sem dúvida porque grande parte dos dispositivos televisivos integraram a chantagem ética e estética dos “apanhados”. Por outro lado, o debate tende a diluir o valor específico das argumentações na produção de frases mais ou menos esquemáticas, susceptíveis de funcionar como sound-bytes.
A questão de fundo não é voluntarista. Não se trata de saber como fazer “mais” e “melhores” debates. Creio mesmo que os operadores televisivos dariam uma bela prova da sua inteligência declarando que talvez precisemos de menos debates. Mais do que isso: reconhecendo que um épico de David Lean ou uma peça de Ibsen podem ser muito mais enriquecedores para a nossa visão do mundo do que um ministro e um líder da oposição a trocar piropos, nem sempre muito elegantes, sobre o modo como o “meu” partido é que tem as “soluções” para “sairmos da crise”...
Numa recente edição de The Daily Show (SIC Radical), Jon Stewart (na foto) deu um excelente exemplo de como é possível manter vivo o diálogo político sem recorrer a estratagemas gratuitos de “espectáculo”. Entrevistava ele Mike Huckabee, republicano, ex-governador do Arkansas, candidato derrotado (por John McCain) à nomeação pelo seu partido para as presidenciais americanas de 2008. Huckabee lançou há poucas semanas o livro Do the Right Thing e, não se coibindo de exprimir pontos de vista contrários ao do seu convidado, Stewart questionou-o, com especial veemência, sobre a sua resistência à legalização do casamento de homossexuais.
Claro que não se trata de sugerir que qualquer jornalista, em qualquer contexto, deva lançar os seus próprios pontos de vista nos debates (sabemos que a maioria dos programas não tem o grau de personalização de The Daily Show). Trata-se, isso sim, de relembrar o óbvio: a televisão não tem que procurar a “polémica” pela “polémica”. Uma televisão viva e inteligente é uma televisão que pensa. E, mais do que isso, possui o condão de fazer pensar.
>>> Este é o registo da parte do diálogo a que o texto se refere — o programa, na sua totalidade, pode ser visto aqui.
Todos os dias vemos (e ouvimos!) a agonia do debate político em Portugal e, em particular, nos espaços televisivos. Por um lado, os lapsos dos intervenientes passaram a contar tanto ou mais do que a exposição das suas ideias. Porquê? Sem dúvida porque grande parte dos dispositivos televisivos integraram a chantagem ética e estética dos “apanhados”. Por outro lado, o debate tende a diluir o valor específico das argumentações na produção de frases mais ou menos esquemáticas, susceptíveis de funcionar como sound-bytes.
A questão de fundo não é voluntarista. Não se trata de saber como fazer “mais” e “melhores” debates. Creio mesmo que os operadores televisivos dariam uma bela prova da sua inteligência declarando que talvez precisemos de menos debates. Mais do que isso: reconhecendo que um épico de David Lean ou uma peça de Ibsen podem ser muito mais enriquecedores para a nossa visão do mundo do que um ministro e um líder da oposição a trocar piropos, nem sempre muito elegantes, sobre o modo como o “meu” partido é que tem as “soluções” para “sairmos da crise”...
Numa recente edição de The Daily Show (SIC Radical), Jon Stewart (na foto) deu um excelente exemplo de como é possível manter vivo o diálogo político sem recorrer a estratagemas gratuitos de “espectáculo”. Entrevistava ele Mike Huckabee, republicano, ex-governador do Arkansas, candidato derrotado (por John McCain) à nomeação pelo seu partido para as presidenciais americanas de 2008. Huckabee lançou há poucas semanas o livro Do the Right Thing e, não se coibindo de exprimir pontos de vista contrários ao do seu convidado, Stewart questionou-o, com especial veemência, sobre a sua resistência à legalização do casamento de homossexuais.
Claro que não se trata de sugerir que qualquer jornalista, em qualquer contexto, deva lançar os seus próprios pontos de vista nos debates (sabemos que a maioria dos programas não tem o grau de personalização de The Daily Show). Trata-se, isso sim, de relembrar o óbvio: a televisão não tem que procurar a “polémica” pela “polémica”. Uma televisão viva e inteligente é uma televisão que pensa. E, mais do que isso, possui o condão de fazer pensar.
>>> Este é o registo da parte do diálogo a que o texto se refere — o programa, na sua totalidade, pode ser visto aqui.