domingo, novembro 16, 2008

No regresso a Brideshead

Com o sub-título As memórias sagradas e profanas do Capitão Charles Ryder, o romance Reviver o Passado em Brideshead (originalmente publicado em 1945 e disponível entre nós em tradução publicada pela Relógio d'Água) é hoje talvez o mais reconhecido dos livros de Evelyn Waugh (1903-1966). O livro recorda os ambientes de Oxford e da Inglaterra aristocrata antes da II Guerra Mundial. Como protagonista (e observador) o livro apresenta-nos a figura de Charles Ryder, oficial do exército britânico durante a guerra, que recorda os dias que viveu em volta de Brideshead e da família que habitava a casa senhorial, nos anos 30. A narrativa reflecte a atracção que Ryder sente pela família Marchmain e traduz grandes mudanças no mundo em que viveram.
O romance ganhou nova visibilidade quando, em 1981, deu origem a uma das mais aclamadas séries televisivas do seu tempo. Agora, 27 anos depois de Jeremy Irons se ter aí revelado como actor no papel de Charles Ryder, contracenando com Anthony Andrews como Lord Sebastian Flyte, a mesma história chega ao cinema, num filme de Julian Jarrold, realizador com carreira essencialmente feita na televisão.
O filme nasce de uma adaptação do romance de Evelyn Waugh, centrando atenções num triângulo que se desenha, na Inglaterra dos anos 30, entre dois irmãos filhos de uma família aristocrata e católica e um estudante de Oxford que sonha um futuro na pintura. Charles Ryder (agora interpretado por Matthew Goode) cativa a atenção de Sebastian Flyte (Ben Whishaw) na universidade. Este leva-o a Brideshead, a casa senhorial onde vive a sua família, dominada pela presença (e fé) da implacável matriarca Lady Marchmain (numa soberba interpretação de Emma Thompson). A transferência dos afectos de Charles para Julia (Hayley Atwell), a irmã de Sebastian, e o consequente refúgio deste no alcoolismo são gatilhos para um enredo trágico, irremediavelmente assombrado pelo sentido de culpa ditado pela forma como em Brideshead se encara a fé.
A nova adaptação opta por uma fotografia mais luminosa que a memória dos tons pardos da série televisiva. E explora mais abertamente a homossexualidade de Sebastian Flyte, nunca evidenciando porém mais do que uma eventual ligação platónica com o amigo Ryder. Ligação forte, contudo, ao ponto de ditar, uma vez constatada a “traição” com Julia, um mergulho auto-destrutivo para o jovem aristocrata.
PS. Versão editada de um texto publicado no DN a 13 de Novembro